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Catedral da Luz

Catedral da Luz

Uma história do Proença

29.02.12, Nuno Gouveia

Poucos árbitros têm prejudicado tanto o Benfica ao longo dos últimos anos como Pedro Proença. Vários foram os jogos em que me recordo das suas actuações miseráveis. O penalty inventado nas antas (recordado aqui pelo Tiago), numa palhaçada perpetrada pelo Lisandro, ou a patética expulsão do Javi Garcia ano passado em Braga, só para relembrar algumas (neste vídeo estão bem exemplificadas alguns desses roubos descarados anteriores a 2009).

 

Mas há um jogo específico que me marcou especialmente, e terá marcado também a ascensão de Proença no futebol português. Falo de um célebre Penafiel-Benfica, jogado na época de 2004/2005 quando vencemos o campeonato com Trapattoni. A três jornadas do fim, antes de recebermos o Sporting, fomos a Penafiel, um clube na altura liderado por António Oliveira, quando ainda não estava zangado com o irmão. A equipa do Benfica estava presa por arames, e uma vitória mantinha o Benfica com três pontos de avanço sobre o Sporting. Mas nesse jogo o pesadelo aconteceu. Aliada a uma má exibição do Benfica surgiu um Pedro Proença inspiradíssimo, que nos roubou nada menos do que quatro penáltis (confirmar no vídeo anterior). Essa actuação terá confirmado para certos senhores do futebol que Proença estava pronto para subir na carreira. Nessa noite abateu-se um enorme pessimismo nas hostes benfiquistas. O período mais longo da nossa história sem vencermos um campeonato poderia não estar a terminar. Mas nessa mesma noite ouvi algo que me revigorou a alma. A mim e a milhares de benfiquistas. Num evento perante dezenas de milhares de pessoas em Braga, um concerto dos Da Weasel, surgiu um Pacman a desafiante a colocar a maioria do público ao rubro com esta frase: "meus amigos, hoje perdemos contra o Penafiel, mas eu ainda acredito e para a semana vamos ganhar ao Sporting e ser campeões". E assim foi. Na semana seguinte lá fui eu à Luz ver a vitória sobre o Sporting e para terminar o campeonato fui ao estádio do Bessa festejar o título. Para sexta-feira só espero que Pedro Proença seja isento e honesto, coisa que não tem sido na esmagadora maioria das vezes que tem apitado o Benfica. Sobre o jogo, conto obviamente com uma vitória do Benfica.

Veloso & Grécia

29.02.12, Henrique Raposo

O Veloso é meu vizinho. Eu já o vi, pelo menos, três vezes no café do senhor Jorge. Para a minha demência benfiquista, isto chega para considerar como vizinho o grande capitão dos anos 80. E confesso ainda que os recontros com este vizinho honorário têm acentuado o meu reacionarismo pró-anos 80. A década de 80 é mesmo uma espécie de pátria mental, sendo que eu serei provavelmente o primeiro cidadão desta nostalgia ‘oitentista’. Ao ver este Veloso-sem-bigode, sinto uma saudade terminal por aquele Portugal de bigodes sujos com caldo verde, sinto falta daquela nação que, bem ou mal, ainda era soberana e livre destas maçadas gregas e europeístas. Era tudo mais simples em 1983. Éramos uma naçãozinha semi-africana, mas tínhamos os pés assentes no chão, tínhamos o nosso escudo, a nossa fruta com bicho, a nossa soberania. E os nossos jogadores ainda dominavam o Benfica.

Em 1983, o Benfica tinha Chalana, o génio do Barreiro; agora tem Gaitán, um sujeito de Buenos Aires em trânsito para Manchester. É tudo mais fluído, mais imprevisível. Não há raízes, não há âncoras, não há continuidades, não há maçã reineta com bicho. Nos gloriosos anos 80, não éramos ‘europeus’, sim senhora, mas éramos livres. O nosso tempo não era esta coisa paranóide. Não havia cá telejornais 24 horas por dias. Só havia um telejornal que começava às sete e meia e que acabava às oito, porque às oito e picos começava a novela. Ante a agitação de 2012, é impossível não sentir uma insuperável ternura por aquele tempo em que havia espaço para o Totobola antes da Lotação Esgotada. Era um tempo de continuidades e, não por acaso, havia as locutoras de continuidade. Que saudades de Isabel Bahia.

Tudo bem? Tudo mal. O problema da nostalgia é que a dita é uma droga poderosa. Tão poderosa como a utopia. É fácil ficarmos inebriados por um passado perfeito, um passado composto por um Benfica com jogadores portugueses, por prateleiras que apenas tinham fruta orgulhosamente nacional (e esburacada) e por uma nação sem laços com estas complicações europeias. Como todas as utopias reacionárias, o meu breve namoro com o tempo do Veloso inventou um passado perfeito que nunca existiu. É bom lembrar que 1983 foi mais duro que 2011. Além disso, a maçã esburacada não era exportável, e agora exportamos maçãs não-esburacadas, entre outras coisas. A agitação trazida pela UE tornou-nos mais fortes, mais musculados. Chalana era bom, mas era um Ronaldo sem trabalho de ginásio, um Figo sem competitividade europeia. A Europa fez-nos bem: o Veloso-com-bigode que me perdoe.

 

Em estéreo com o Expresso

Os pontos, o Benfica no Facebook e as imbecilidades da Liga

29.02.12, rms

A polémica começou no Facebook, quando o gestor da página oficial do Benfica decidiu afirmar que o "Benfica defronta na sexta-feira o segundo classificado". Ora, tal não é verdade, a menos que vá ter lugar algum jogo entre o Benfica e o Benfica "B". Primeiro, há a registar a ignorância de quem fez tal comentário, o que é grave, porque o Benfica é demasiado grande para este tipo de erros. Depois, a evolução positiva da gestão da página na medida em que, até à época passada, não se via por lá qualquer referência a derrotas. Terceiro, a verdade, por muito que custe a todos nós, é que estamos em segundo. E a menos que ganhemos o jogo com o FCP continuaremos em segundo. Mesmo que empatemos 0-0 ou 1-1. 

 

O absurdo dos regulamentos da quarta melhor liga do Mundo faz com que assim seja. Na prática, o que pode acontecer e, confesso, dar-me-ia especial gozo, é o FCP estar em primeiro na última jornada e o Benfica ser campeão! Isto porque os critérios de desempate apenas se aplicam no final das competições. Há qualquer coisa nos critérios de desempate da LPFP que parece fazer confusão naquelas cabeças. Quem não se lembra das confusões com os critérios de desempate na Taça da Liga?

 

 

 

 

 

 

Artigo 13.º
Desempate em caso de igualdade de pontos

1. Para estabelecimento da classificação geral dos clubes que, no final das competições a disputar por pontos, se encontrarem com igual número de pontos, serão aplicados, para efeitos de desempate, os seguintes critérios, segundo ordem de prioridade:
a. Número de pontos alcançados pelos clubes empatados, no jogo ou jogos que entre si realizaram;
b. Maior diferença entre o número de golos marcados e o número de golos sofridos pelos clubes empatados, nos jogos que realizaram entre si;
c. Maior número de golos marcados no campo do adversário, nos jogos que realizaram entre si;
d. Maior diferença entre o número dos golos marcados e o número de golos sofridos pelos clubes nos jogos realizados em toda a competição;
e. Maior número de vitórias em toda a competição;
f. Maior número de golos marcados em toda a competição.

Haja vergonha

28.02.12, Daniel Vieira

Atenção meus senhores. Sexta não poderei estar presente, mas façam o senhor Proença tremer.

Só dele devemos ter medo! Vamos para cima deles contra esta afronta que nos querem fazer! Uma vergonha esta nomeação.

Pé-morno

28.02.12, Bruno Vieira Amaral

Dos muitos factores que contribuem para a decisão de um campeonato o meu preferido é a estrelinha. A estrelinha, uma estrela pequenina, são os juros da sorte, é algo que se fez por merecer nos outros jogos e que recebemos num em que jogámos particularmente mal. Portanto, a estrelinha é mais ou menos racional, mais ou menos ilógica. Acontece não só quando mais se espera, mas quando mais se precisa. É como se o destino desse uma de polícia de trânsito simpático “desta vez passa, mas tenha mais cuidado da próxima.” Quando chateamos muito o destino é natural que a estrelinha se apague e que o destino nos vire as costas, não sem antes passar a multa. Num ciclo de quatro jogos decisivos, não ganhámos nenhum dos três primeiros. A estrelinha não apareceu. Fundiu-se. Jesus, que considero o melhor treinador para o Benfica, incorre frequentemente em hubris, faz pouco do destino e, vingativo, o destino não lhe dá estrelinha, deixa-o por sua conta e risco. Com um treinador mais humilde, Yannick entrava em campo e marcava. Mas como o treinador já disse que vai fazer do Yannick um grande jogador – mais hubris é impossível – o Yannick entrou em campo e foi simplesmente o Yannick e não o desejado fio condutor da corrente eléctrica da sorte. Um treinador que despreza o peso do fortuito na história será sempre incapaz de convocar a estrelinha. E há momentos em que o futebol não faz sentido nenhum (por exemplo, sempre que o Vítor Pereira faz uma substituição). Toni, esse baluarte do benfiquismo mas um treinador muito inferior ao Jesus, tinha muito daquele fechar de olhos que não é desespero, mas demonstração de respeito pelos acasos do futebol. Trapattoni, que dirigiu um plantel do Benfica muito inferior ao de Jesus, encomendava-se à virgem e mandava Mantorras aquecer: foi abençoado pela estrelinha. Jesus não é pé-frio. Se fosse, nunca teria conquistado um campeonato à primeira. Também não é pé-quente, ou não teria perdido aquela eliminatória para a Taça, nem teria visto o Porto sagrar-se campeão na Luz, um ano depois de o Benfica ter desaproveitado a oportunidade histórica de se sagrar campeão nas Antas. Jesus é um pé-morno. Ora aquece, ora arrefece. A única coisa que é certa, para além destas variações de temperatura do pé, é que quando tudo falha (as bolas paradas, porra, marquem um golinho de bola parada) nenhuma estrelinha virá em seu socorro.

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