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Catedral da Luz

Catedral da Luz

Acabem com as claques

30.10.13, Henrique Raposo

Coluna de hoje do Expresso online

 

No domingo, o enésimo confronto entre claques causou comoção e espanto. Não percebo porquê. A sociedade e a polícia legitimam há anos o vandalismo das claques.  Não o controlam, não o punem, legitimam-no. E a legitimação começa num termo engraçado, "caixa de segurança". É este o eufemismo que esconde uma cena absurda que se repete época após época: quatro, cinco, seis, dez mil gandulos juntam-se num sítio e depois são escoltados pela polícia até ao estádio do rival na tal "caixa de segurança". Neste percurso legitimado e protegido pela polícia, a "caixa de segurança" funciona como um arrastão, lojas têm de ser fechadas, ruas têm de ser fechadas. Ou seja, o estado de direito, representado pela polícia, não protege o cidadão das acções dos bárbaros. Faz o inverso: põe em causa a normalidade do cidadão para permitir a passagem de um pequeno furacão de candidatos a gangsters. Eis, portanto, o absurdo: a polícia é babysitter de gente que devia estar a prender. Sim, o lugar de boa parte daqueles charrados profissionais não é o estádio, é o chilindró. 

Mas o absurdo da "caixa de segurança" não acaba aqui. Lá dentro, não existe lei. Ou melhor, existe a lei dos pequenos mafiosos que controlam a turba. Nas barbas da polícia, que só controla o cordão exterior da "caixa de segurança", aqueles índios caminham com armas, droga e petardos. Pior: eu sou revistado à entrada do estádio, mesmo quando levo uma criança pela mão, mas ninguém revista as claques. A impunidade é total. É como se a claque de futebol fosse uma licença para o banditismo. E a impunidade chega ao limite quando vemos esta gente a agredir polícias com um sorriso nos lábios. Porque é que sorriem? Porque sabem que não sofrerão grandes consequências. O índio da claque sabe que está protegido pela confusão, sabe que as suas acções individuais são diluídas pela onda colectiva. Resultado? Na TV e ao vivo, já vi claques a humilhar polícias sem qualquer tipo de consequência posterior. Porque é que isto acontece? Como é que podemos ser tão tolerantes com gente que actua objectivamente fora da lei? E existe ainda outro acorde desta sinfonia de impunidade: em Portugal, apenas treze indivíduos estão legalmente impedidos de entrar em estádios. Treze. Parece piada, não é? Mas a piada maior é outra: a polícia não tem meios para os controlar. Porquê? Provavelmente porque está a fazer "caixas de segurança" para os outros 10 mil índios. 

Como já se percebeu, esta questão sai do relvado e entra na moral da sociedade por inteiro. Aliás, a falta de firmeza perante as claques é um dos sintomas de uma doença grave que nos afecta há décadas: a sociedade portuguesa confundiu autoritarismo com autoridade. Se o primeiro conceito invoca um sistema político filha da mãe, o segundo representa um valor fundamental na vida democrática. Ao contrário do que reza a lenda, democracia não é a abolição da autoridade. É, isso sim, a legitimação da autoridade. O poder policial do Estado Novo era ilegítimo, porque estava ao serviço de um regime autoritário. O poder policial da democracia é legítimo, porque está ao serviço do nosso bem comum. À justiça da ditadura, que tinha duas espadas e nenhuma balança, não se seguiu uma justiça com duas balanças e nenhuma espada. A justiça democrática tem a espada ao lado da balança, e não deve ter medo de usá-la. Uma carga policial sobre claques de gandulos não é repressão, é lei e ordem. A proibição activa destas claques lideradas por criminosos não é repressão, é decência.

Será preciso morrer alguém para acabarmos com a brincadeira? 

Benfica e os dias da rádio

25.10.13, Henrique Raposo

 

 

Crónica de hoje do Expresso online

 

O futebol tem o dobro da piada quando é visto através da rádio. Os profissionais do relato transformam um jogo de futebol numa tempestade de raios e coriscos. No relato, os futebolistas calçam uns patins homéricos e deslizam por ali como deuses gregos, como criaturas aladas que só precisam de três segundos para irem de uma baliza à outra, e há sempre adrenalina mesmo quando a bola está num meinho entediante, a nossa equipa está sempre na iminência de marcar golo mesmo quando a bola está no nosso guarda-redes. Não por acaso, a minha reacção ao meu primeiro jogo no estádio foi um lapidar "pai, eles correm devagarinho" . Habituado a ver o Benfica pelos relatos da Renascença, achei estranha a lentidão do jogo ali no estádio. Afinal, não eram deuses com asas, só gajos com chuteiras. Aliás, confesso que nunca me reconciliei com a velocidade normal do jogo. Sempre que vou ao estádio fico com a sensação de que estou a ver o slow motion de uma coisa que devia estar em fast forward.  

Invoco os santos dias da rádio para ter os instrumentos certos para descrever o entediante Benfica deste ano. É que o Benfas 13/14 é um bocejo até na rádio. Nem os relatos conseguem dar alguma beleza a esta equipa. Os homens que relataram para a Renascença o jogo de quarta-feira não escondiam o tédio. E a modorra é mais do que justificada, diga-se. Acorrentada ao trauma da época passada, presa a um treinador que não pode respeitar, a equipa não corre, não pensa, não arrisca.  O Benfica 13/14 é tão entusiasmante como quatro velhinhas a jogar canasta. Sim, o último Benfica de Jesus é um fenómeno geriátrico.

O contraste com o passado recente é doloroso. O Benfica de Jesus fazia lembrar o Isaías, isto é, fazia dez remates em dez minutos, era um frenesim de oportunidades e golos, uma descarga neptuniana de electricidade. Finalmente tínhamos uma equipa que jogava à velocidade dos relatos da rádio. Durante quadro anos, o ritmo do relato e o ritmo do jogo estiveram irmanados, os relatadores não tinham de inventar nada, só tinham de descrever. Mas aquele Maio luciférico apagou a electricidade, que não voltará tão cedo. Nem o mais genial dos relatadores pode dar magia a esta equipa. 

O fim de Jesus é o fim de Vieira

04.10.13, Henrique Raposo

Crónica de hoje do Expresso online

 

Reconheço o sabor desta temporada 2013-14, é aquele travo acre dos anos 90 e do início dos anos 2000. Parece que estou em 1996, 98 ou 2001. É aquele desânimo, o ver por obrigação uma equipa sem rumo. Não por acaso, voltei a entrar no erro benfiquista daquela negra época: a dança de treinadores. Tal como todos os benfiquistas, estou farto de Jesus, quero um treinador novo e tenho os meus candidatos. E até tenho razão para estar descontente. Depois daquele Maio traumático, o Benfica devia ter dispensado Jesus. Como isso não aconteceu, nós, adeptos e até jogadores, ainda estamos nas Antas e em Amesterdão, ainda estamos naqueles dois 90+2. Mas, atenção, o grande responsável por esta situação não é Jesus. O culpado é o Presidente Vieira. Por outras palavras, o nosso tema de debate não devia ser o pós-Jesus, mas sim o pós-Vieira. 

Para não despedir Jesus no final da época passada, Vieira agarrou-se ao trauma Fernando Santos. A comparação é incompreensível e revela logo à partida uma débil inteligência desportiva. Fernando Santos foi despedido na primeira jornada da sua segunda época. Uma precipitação, sem dúvida. Ao invés, Jesus estava há quatro anos no clube (um ciclo completo) e finalizou o ciclo com três derrotas traumáticas. O fim da Era Jesus era a única saída aceitável. Não está em causa a qualidade do futebol (questão técnica), mas a moral de um homem. Depois daquela descida aos infernos da bola, os jogadores e adeptos nunca voltariam a encarar Jesus da mesma forma. O balneário nunca mais estaria com ele. Como se vê agora. Toda a gente antecipou este cenário, Vieira foi a única pessoa no planeta que não quis ver o óbvio. É grave. O Presidente do Benfica não tem de perceber de futebol, mas tem de revelar sensibilidade para as coisas que estão além da folha de excel.

Fernando Santos e Jorge Jesus são o 8 e o 80, e o problema é que Vieira nunca conseguiu encontrar um meio termo na sua relação com os treinadores. Além disso, a gestão do plantel tem sido caótica e, passados doze anos de consulado Vieira, o Benfica ainda não fixou uma estrutura clara: quem é que manda no futebol? O que faz Rui Costa? O que faz Shéu Han? Carraça? Todas estas indefinições estão na base das nossas derrotas. Sim, é verdade que Vieira terá um lugar na história do clube. Os historiadores do Benfas dirão que "Vieira foi o presidente da transição, pegou num clube de joelhos e deu-lhe estruturas". Problema? Falhou no futebol. É tempo de passar a bola a outro. 

Até quando?

03.10.13, Filipe Boto Machado

O presidente quer a final e ele resigna-se em ser cilindrado pelo PSG e tentar lutar pelo 2º lugar com o poderoso Olympiakos. Coloca-se em bicos de pés porque é um dos treinadores convidados para os Fórum da UEFA (ainda não se deu conta que assim é porque treina o Benfica...) e faz elogios a si próprio quando chega longe numa competição europeia, mas quando chega a hora da verdade e perde, logo se resigna com a derrota, arranjando desculpas e colocando os seus jogadores a um nível muito inferior aos outros adversários. Esquece-se por exemplo que em três participações na Champions, foi eliminado na fase de grupos em duas delas (à custa de Celtic/Barcelona e Lyon/Schalke). Que mal fizeram os benfiquistas para merecerem este tipo à frente da equipa durante mais de quatro épocas? Esta é a verdadeira maldição de Bella Guttman.

Deram-lhe tudo, um plantel de fazer inveja a muitas equipas na Europa num investimento brutal que terá de ser pago um dia destes. Estamos no início de Outubro e não se vislumbra o mínimo de qualidade. Ontem, sofremos mais golos em lances de bola parada ao segundo poste e fomos destruídos tacticamente porque o catedrático só sabe jogar de uma forma (demorou 45 minutos para perceber que estava a perder o meio campo...). Nem uma ocasião de golo. Não fizemos sequer cócegas ao PSG. Pior que tudo, os jogadores, muitos deles de qualidade inegável, demonstram uma tremenda falta de atitude. Ninguém acredita naquele derrotado.

Com o campeonato a fugir (o próximo jogo será mesmo decisivo) e uma derrota humilhante na Champions (não pelos números mas pela fraquissíma exibição), não demonstramos qualidade de jogo nenhuma. No quinto ano consecutivo de JJ ao serviço do Benfica e com a manutenção de todo o onze base da temporada passada, o Benfica é o único candidato ao título em Portugal que ainda procura um nível mínimo de entrosamento.

Desculpa-se com os árbitros, a falta de orçamento (ridículo com aquilo que o Benfica lhe tem proporcionado), a falta de sorte ou a sobrecarga de jogos. Nunca é ele o culpado. Nunca assume uma derrota. Até quando vamos ter que aguentar este tipo como treinador do Benfica? O pior é saber que o próximo treinador não terá a mesma sorte. Depois de anos de investimento e nenhuns resultados não é difícil adivinhar que vem aí um período de desinvestimento. Nestes anos tivemos tudo para voltar a ser o Benfica do passado. Só nos faltou o treinador!

Breves sobre o Benfica-Belenenses

01.10.13, Filipe Boto Machado

- Não jogámos nada de nada. Nem um bocadinho.

- Não é por o JJ dizer que é bom que de facto o é. Será que ninguém naquele clube percebe isso?

- O Cortez faz-me ter saudades do Emerson. O Escalona e o Pesaresi afinal não eram assim tão maus.

- O Fejsa e o Matic juntos não funcionam quando temos que assumir os jogos desde o primeiro minuto, mas o catedrático ainda não percebeu isso.

- O Matic é um "6" com grande capacidade ofensiva, mas um "8" com muito pouca criatividade.

- É impressão minha ou o JJ colocou o Cortez a titular em mais uma tentativa de provar a todos que ele é que sabe e pode transformar este perna-de-pau num bom jogador? Até onde vai o ego deste tipo?

- O Markovic precisa de passar uns jogos no banco. A (falta de) atitude demonstrada nos últimos três jogos é assustadora para um miúdo de 19 anos.

- O Tacuara continua a salvar-nos em todos os jogos. Já lá moram dois golos.

- O Cortez é lento, posiciona-se mal, não sabe centrar, é trapalhão e nem sequer é muito inteligente. De repente, parece-me que só sabe fazer tabelinhas...

- O Maxi calça chuteiras de chumbo?

- Sofremos o 50º golo de bola parada ao segundo poste nos últimos 4 anos e pouco. Este treinador é bom...

- Quem é que continua à espera de ver um cruzamento decente do Cortez? Esperem sentados...

- Decorridas 6 jornadas, o Benfica já perdeu 7 pontos, tem apenas 9 golos marcados e já lá vão 6 sofridos.

- Cinco pontos de desvantagem para o Porto e três para o Sporting. Se mandarmos o JJ embora ainda vamos a tempo de ganhar isto.

- O Cortez foi o melhor lateral esquerdo do Brasileirão 2011? A sério? Mas havia outro? E anda o nosso catedrático a passar madrugadas acordado para ver os jogos do Brasileirão...

Esta é a 5ª época de JJ no Benfica. Alguém nos rogou uma praga...

- E se o JJ for castigado por vários meses? Acho que o LFV não corre com ele por nada deste Mundo. Nem que o tipo apanhe pena perpétua. No entanto, gostava de ser o juiz que o vai julgar...

- O Cortez completou mais 90 minutos com o manto sagrado vestido. Definitivamente, alguém nos rogou uma praga.