O que importa
O golo de Matic não foi uma obra de arte. As obras de arte são bens transaccionáveis, orgulho de museus e coleccionadores. Joe Berardo, por exemplo, tem uma data delas. O golo de Matic foi uma manifestação pura de beleza que cada um de nós há-de guardar no cofre particular da memória. Não foi apenas um remate fantástico, que também foi, foi igualmente geometria, poesia e metafísica (já explico esta) em movimento, um movimento sobre o qual nem é lícito falar-se no pretérito porque, na sua perfeição, ainda está a acontecer. A parte da metafísica explica-se porque a corda emocional tocada por um golo destes no coração de um benfiquista é mais vibrátil do que a de um espectador neutro, já para não falar de um adepto da equipa adversária. Como no futebol não há justiça, o golo de Matic não valeu por dois, e isso é que seria justo. É a crueldade da matemática. Mas na matemática das emoções aquele golo, apesar de não nos ter dado a vitória, é um multiplicador de alegria. Saltei, gritei e, quando vi a repetição, fiquei especado a olhar para as imagens: que golo do caralho! E, então, sem que qualquer culpa lhe possa ser atribuída, pontapeei a cadeira.