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Catedral da Luz

Catedral da Luz

Aquela noite

14.02.13, Bruno Vieira Amaral

Recordo a noite, no Ulrich Haberland, do mais glorioso empate da história do Benfica. Duas semanas antes, empate em casa que, se a memória não me falha, mereceu o título “Luz Amarela” na capa da extinta Gazeta dos Desportos. Depois, aconteceu aquilo. Ao intervalo perdíamos por 1-0 (golo de Ulf Kirsten). No início da segunda parte, 2-0, pelo veterano Schuster. Lembro-me de ter pensado que, a partir daquele momento, bastava-nos um empate. O optimismo é certamente uma perturbação futebolístico-psiquiátrica. Logo a seguir, incrivelmente, Abel Xavier marca o golo de uma vida, João Pinto empata, Kulkov põe-nos a ganhar. Assunto arrumado. Agora eles tinham de marcar dois. Impossível? Não. Naquele ano, a defesa do Benfica parecia, por vezes, uma anedota. Neno, William, Helder, Abel Xavier e Schwarz (terá jogado o Kenedy neste jogo?) tinham intervalos de humor burlesco. Apanhámos 5 do Setúbal, empatámos a 3 nas Antas, levámos mais três em Alvalade (sim, metade da dose que lhes aplicámos mercê do génio táctico do Queirós). Um tal de Paulo Sérgio, que seria chamado para o escrete para gáudio da turma do Casseta e Planeta que o comparava a uma bota, rebentou a nossa débil resistência. Só que tínhamos aquele meio-campo, aquele meio-campo, aquele meio-campo e Kulkov e Rui Costa eram aquele meio-campo. Kulkov foi dos jogadores mais admiráveis do Benfica. Jogava em toques de veludo, com a lucidez diagonal que só se atinge com vodka e noitadas. De Rui Costa não preciso dizer nada. A estes dois juntavam-se Isaías, um bombardeiro tropical, um João Pinto na melhor forma de sempre, Vítor Paneira, glória da ala direita onde passava pelos adversários com requintes de toureiro, e um Iuran que não era grande goleador mas era exímio na arte contra-intuitiva de receber a bola de costas para a baliza. Ah, e também havia um tipo sentado no banco mas que deve ter percebido tanto do que se estava a passar como qualquer um dos milhões de adeptos que viram o jogo. Era o Toni, esse mago acidental que nos levou a uma final da Taça dos Campeões com Tueba e Hajry na equipa. A noite de Leverkusen foi a mais bela noite do meu Benfica europeu.

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