Poderia começar com uma bela citação de Enrique Vila-Matas, Javier Marias ou Eduardo Galeano sobre futebol. Ou com uma evocação poética dos meus anos de crescimento como adepto do Glorioso - a vidência de Rui Costa, os dribles de Valdo, a elegância de Ricardo Gomes, a mão de Vata, esse tipo de coisa. Ou ainda recordar o que apenas vi a preto e branco, os golos de Eusébio ou as finais europeias dos anos 60. O lamento de Veloso depois de falhar o penalty em Estugarda. Ou até os períodos de pousio, depois de Toni - nem tudo é bom na vida, e as conquistas têm mais sabor se acabarem com uma longa espera.
Mas é melhor falar do presente. Os adeptos do outro clube da Segunda Circular prosperam no vazio de títulos. Sabem meditar sobre a derrota, admito. Aceito que alguns dos que melhor escrevem sobre bola pertencem a esta raça. A melancolia da derrota sempre foi mais produtiva do que a alegria da vitória. Contudo, não me obriguem a preferir a fecundidade criativa da ausência à secura estéril da vitória. O Benfica de hoje, pela mão de Jorge Jesus, tornou-se um clube ganhador. Com um futebol superlativo. É fácil ser benfiquista, nos dias que correm. Será um prazer escrever sobre o Benfica, em tempos de bonança.