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Catedral da Luz

Catedral da Luz

Uma análise de classe das eleições do Benfica

23.10.12, Tiago Mota Saraiva

Ao contrário do que tem sido habitual, nestas eleições do Benfica não se tem ouvido nomes de galáticas contratações associadas a esta ou aquela candidatura. Por mais que isso possa irritar os meus amigos de direita, até ao momento, a discussão tem-se centrado em questões de carácter político definindo, desta forma, o espectro de classe dos associados a quem se dirigem.

Rui Rangel ameaça com um plano de austeridade para o Benfica, pretendendo replicar a receita de "crescimento" que Passos e Gaspar aplicam ao país. Ao invés, ainda que com algumas hesitações e contradições políticas, Luís Filipe Vieira anuncia a diminuição das quotas e dos bilhetes para os jogos.

Sendo o espectro de classe a que Vieira se dirige cada vez mais amplo entre os fiéis do Benfica, fica a dúvida se ainda haverá muitos com a sua situação regularizada junto do clube de modo a que possam exercer o direito de voto.

Caso não fosse um desses fiéis sem direito de voto, o meu voto não hesitaria em escolher Luís Filipe Vieira.

O benfiquista terminal

23.10.12, Henrique Raposo

 

Além de ter revelado um Kulkov levezinho, o menino André Gomes, o jogo com o Freamunde mostrou que a nação quer mesmo chegar ao Jamor. Ainda bem. O Jamor é o Jamor, e o meu benfiquismo precisa de Taça. Há uns anos, depois de ganhar o caneco, o nosso Preud'Homme disse qualquer coisa como isto: "não compreendo esta coisa portuguesa de desprezar a Taça em relação ao Campeonato, para mim são iguais". Confesso que, na altura, estive para beijar a carapinha do belga, porque é isso mesmo: ganhar a Taça é quase tão bom como ganhar o Campeonato. A alegria é a mesma, ou até superior, porque fica concentrada naquele shot final. O Campeonato é uma longa noite de imperais, que, às vezes, pode ser chata. A Taça é um bagaço: pode ser mau, mas nunca é chato.

Sim, o meu benfiquismo precisa de Taça, até porque foi tecido nas finais do Jamor. O meu primeiro jogo de sempre foi o Benfica/Sporting da final de 1987 . Dois grandes golos do Diamantino garantiram o caneco, naquela que foi a última dobradinha da nação. Isto quer dizer que ando a dar azar há vinte e tal anos, mas avancemos. 1987 foi apenas a primeira de uma longa série de finais da Taça (com ou sem Benfas): acordávamos cedo, levávamos o farnel e uma bola para a mata do Jamor, e depois lá íamos ver a final. A minha doença chamada benfiquite terminal foi desenvolvida ali, sardinha a sardinha, pimento a pimento, bifana a bifana, jogo no pelado após jogo no pelado. E até posso dizer que comecei a ir para o topo sul do Jamor antes de começar a visitar o Estádio da Luz. Uma heresia boa. 

Naquele topo, vi em 1993 a melhor equipa da nação desde os anos 60: Neno, Veloso, Mozer, William, Schwarz, Paulo Sousa, Vítor Paneira, Rui Costa, João Pinto, Futre, Rui Águas. Ganhámos por 5-2, e podiam ter sido 10-5 . Aquela época, 1992-1993, foi uma porcaria e acabou no célebre verão quente. Mas aquele jogo encheu-me de moral. Depois daquela vitória, o facto de termos perdido o Campeonato em Aveiro por causa de um brasileiro fininho chamado Dino já não importava. O Jamor redime tudo, salva mesmo uma época, e dá moral para atravessar o maldito verão. E, atenção, o Jamor também inverte tudo. Aliás, posso dizer, com todo o rigor científico, que uma equipa campeã deixa de o ser quando perde a final do Jamor (foi o que aconteceu à nação em 2005). O Jamor tem macumba. E, pronto, só queria dizer que gostava muito de ver o menino André Gomes na final daqui a uns meses.

Ainda bem que Rui Rangel é candidato

16.10.12, Nuno Gouveia

A entrada de Rui Rangel na corrida à liderança do Benfica são boas notícias, mesmo para aqueles que apoiam Luís Filipe Vieira. Um clube como o nosso não pode unanimista nem de falsos consensos. Mais tarde darei a minha opinião sobre as candidaturas. Agora venha o debate e que ganhe o melhor projecto para o Benfica.

Desilusão

07.10.12, Nuno Gouveia

Uma coisa é criticarmos a equipa em casa, no meio de amigos ou até em blogues. Outra bem diferente é estar no estádio, o jogo a correr mal, e contribuir para o nervosismo da equipa. Esta última não é aceitável, e espera-se dos adeptos no estádio um comportamento diferente. Se queremos ser campeões, a nossa função enquanto adeptos nos estádios, seja em casa ou fora, é estar ao lado da equipa a apoiá-la. 

 

O jogo de ontem foi uma enorme desilusão. Infelizmente, e isso não é novidade, os jogos após as competições europeias costumam ser penosos. Ontem, mesmo perante um Beira Mar que deve ser das piores equipas do campeonato, o golo sofrido logo no inicio condicionou o jogo, e fizemos, talvez, a pior exibição da época. Se pretendemos ser campeões, não poderemos fazer muito mais jogos deste calibre. Se tivéssemos pela frente uma equipa competente, ontem poderíamos facilmente ter tropeçado. Um aviso à equipa. 

 

Artur, depois de clamar por uma oportunidade na selecção brasileira, cometeu uma fífia gigantesca, que lhe devia ensinar uma lição: fale menos do Brasil e dos adeptos dos nossos rivais e concentre-se mais nos jogos. Não foi a falar que Artur conquistou o respeito e admiração de todos os benfiquistas. Maxi Pereira, que até estava a ter um inicio de época penoso, ontem marcou um grande golo e mostrou aos avançados como se faz. Rodrigo falhou um penálti (eu teria apostado em Lima, que no ano passado cumpriu e bem essa função no Braga), mas nunca desistiu e passou os minutos que esteve em campo a tentar marcar. Felizmente conseguiu. Uma nota para dois ausentes. Aimar, estando em condições, tem de jogar sempre. Depois queixem-se. Cardozo faz falta e espero que regresse rapidamente à equipa. 

Ganhar

06.10.12, Nuno Gouveia

Parece que amanhã haverá um encontro entre dois clubes amigos, e que para a festa ser completa, até será apitado por um conhecido adepto e antigo membro da claque de um deles. O Presidente do clube mais fraquinho, que está em dificuldades por já ir para o quarto treinador em duas épocas, até elogiou o rival nas vésperas do jogo. Mas não é esse jogo que me preocupa, nem sequer as desgraças do clube que foi humilhado pelo fortíssimo 5º classificado do poderoso campeonato húngaro. Hoje à noite jogamos com o Beira Mar. Depois do "banho" de bola que levamos na terça-feira (e infelizmente nada podíamos fazer para o evitar), é preciso que hoje a equipa entre em campo decidida a dar um bom espectáculo de futebol, ganhar com facilidade, e, se possível, com muitos golos. Visto que o campeonato só regressa no fim de semana de 25 de Outubro (uma aberração do futebol português), seria importante passar este mês na liderança do campeonato. E como sabemos que o mais provável é que o nosso rival alcance amanhã uma goleada "gorda", o melhor é mesmo marcar muitos golos. 

 

Equipa para logo? Pelo que tenho lido, há várias dúvidas no plantel. Contando que estes poderão ir a jogo, esta seria a minha equipa: Artur, Maxi Pereira, Miguel Vitor, Garay, Melgarejo, Matic, Enzo Perez, Aimar, Sálvio, Rodrigo, Lima. 

Palavras para quê?

03.10.12, Filipe Boto Machado

No final da temporada passada, Bruno Paixão, por não ter dado "aquela mãozinha" ao F.C.Porto em Barcelos, desceu de categoria. Ousou incomodar o Papa, teve o castigo merecido. Depois do triste espectáculo que foi a arbitragem de Xistra em Coimbra, na qual roubou dois pontos ao Benfica, a sua avaliação foi de 3,9, numa escala de 0 a 5. Uma boa avaliação da arbitragem, fruta no fim do jogo e a protecção do Papa são as recompensas para desempenhos como os de Xistra há duas semanas. Não há dúvidas, o crime compensa.

«Só há uma bola...»

03.10.12, Tiago Mota Saraiva

 

Podíamos ter vencido o jogo contra o Barcelona, mas isso seria sempre uma situação extraordinária. Não tenho grandes dúvidas que o Barça é a melhor equipa do mundo. Mas também falha... pouco. Para o Benfica vencer não bastava ter feito um grande jogo, era preciso que o Barça não jogasse bem.

Tal como Pablito Aimar disse no final da partida, "Só há uma bola e eles têm-na durante três quartos da partida...", mas não creio que bastasse que se tivessem traduzido em golo as oportunidades da primeira parte.

Com estes jogadores era difícil fazer melhor

02.10.12, Filipe Boto Machado

Quando no sorteio nos calhou o Barcelona já sabíamos que ia ser difícil. Entretanto, perdemos Luisão, castigado, Witsel e Javi García, vendidos. Não encontrámos substitutos e fomos à luta com o que tínhamos disponível. Se ia ser difícil, fragilizados desta forma tornou-se ainda mais complicado. Jogar contra o Barcelona é abdicar da bola a maior parte do tempo, é correr muito e sofrer outro tanto. Nunca é fácil para qualquer equipa. No entanto, jogar sem meio campo contra estes senhores é um suicídio. No meio campo jogámos com um jogador que ainda não está adaptado à posição 6, Matic, e dois extremos que, com notórias dificuldades, fazem o possível para cumprir no centro do campo, Bruno César e Enzo Pérez. Era previsível que isso não chegasse e não chegou. No estádio, com uma visão panorâmica do que se passava, foi possível ver como o meio (não) pressionava. Bruno César via jogar e nem estava bem posicionado, Enzo procurava apenas não desequilibrar a equipa e Matic procurava ganhar a bola naquele seu jeito voluntarioso e desorientado, sempre fora da sua posição. Com estes jogadores, era difícil fazer melhor. Com Javi García e Witsel, provavelmente, perderíamos o jogo na mesma (eles ganham quase sempre, seja contra quem for), no entanto, estou certo que incomodaríamos mais o Barcelona e daríamos melhor réplica. Faltou-nos quem pressionasse e desse luta no meio campo. Os que jogaram não têm essas características por muito que os posicionem nessas posições. Para percebermos a fragilidade do onze que apresentámos hoje, repare-se que 5 dos 10 jogadores de campo titulares, no ano passado, jogavam nas alas sem grandes preocupações defensivas: Melgarejo, Bruno César, Gaitán, Salvio e Enzo Pérez. Este é o plantel dos extremos, por isso não podemos querer que eles sejam números 6 ou 8. Jogar contra o Barça implica defender muito, correr atrás da bola, mas não fazer marcação com os olhos, ver a bola rolar e esperar que o Barcelona a deixe escapar por erro próprio. Desse modo, provavelmente, o Barcelona vai errar pouco, como não errou, e chegará ao golo mais tarde ou mais cedo, como assim aconteceu no início de cada uma das partes. Sem ser pressionado, o Barcelona perde a bola apenas onde tal não acarreta qualquer perigo e o adversário está muito longe da baliza do Barça para conseguir criar oportunidades de golo.

O jogo já lá vai. Com outros jogadores podíamos ter feito melhor, mas não foi nenhuma vergonha. A prioridade é o campeonato e na Champions nada está perdido. Longe disso. Estou convencido que com 8 pontos passamos este grupo. Faltam duas vitórias e um empate. Empatar na Rússia e ganhar os jogos em casa que nos faltam é a receita.

 

PS: Os benfiquistas pediram uma alternativa a Maxi para quando este estivesse lesionado ou castigado. Neste momento, precisávamos de mais do que uma alternativa para o substituir em caso de lesão ou castigo. Maxi precisava mesmo de uns jogos fora. Desde o início da época, o uruguaio ainda não se encontrou. Acumula lapsos defensivos e más decisões no plano ofensivo. Hoje foi um verdadeiro desastre. Quase todos os lances de perigo para a nossa baliza surgiram por aquele lado. Um jogo para esquecer. Esperemos que volte ao melhor nível rapidamente.

Os benfiquistas têm memória curta

02.10.12, Henrique Raposo

Não morro de amores pelo homem que governa a nação neste momento, mas também não sofro de amnésia. Antes de Vieira, o Benfica era um acamado. Como dizia Mourinho há dias, o Benfica tinha perdido a respeitabilidade europeia. Para as gerações de adeptos europeus da Era Champions, o Benfica metia tanto medo como o Bastia, Bolonha ou Bolton. Continuámos a ter um ego de ave de rapina, mas os outros viam bem a nossa condição: éramos uma ave de capoeira, um galináceo a sonhar com voos picados. O gozo de Drogba não veio do nada. Como é que chegámos a esse ponto? Entre 1994 e 2010, a nação atravessou um deserto. "Ah, então e o campeonato de 2005?", pergunta o sócio impaciente. Mas alguém tem memória da equipa de Trapattoni? Em 2005, fomos campeões sem saber como, fomos campeões devido aos feitiços de um profeta angolano coxo . Não, meu amigos, a travessia do deserto não durou nove anos, mas dezasseis. Foram as equipas de Jesus - o resultado final do trabalho de Vieira - que acordaram o clube. 2010 foi especial, porque fomos campeões com a melhor equipa desde 1993-94. 

Já ninguém se lembra do tempo dos Paredões e dos Pringles? Já ninguém se lembra dos primeiros anos pós-1994, os anos Artur Jorge e pós-Artur Jorge? Nestes tempos, o Benfica era uma espécie de Sporting em tamanho XXL. Tínhamos uma equipa de remendos - Hassan, Nelo, Tavares, Tahar (podíamos fazer um filme de terror com este casting). Não havia raça. Não havia talento. Não havia Benfica. Sem a genica do João Vieira Pinto e sem a carapinha do Preud'Homme, estou convencido que teríamos ficado mais vezes em sexto lugar - a proeza de 2000/01. Já ninguém se lembra desta época? Eu, por acaso, não me lembro. Aliás, tenho poucas memórias desses tempos. Sei que tivemos no lugar de treinador um escocês com cara de garrafão e um egípcio chamado Manuel José. Lembro-me que tivemos capitães inconcebíveis, reformados espanhóis no meio-campo, pensionistas ingleses no ataque, operários galeses na ala esquerda e, pronto, é só isso. Até à equipa do Aimar e Saviola, não tenho nada na cabeça sobre o Benfica, e garanto-vos que via todos os jogos.

Por muito que custe à malta da memória de passarinho, foram as equipas de Jesus/Vieira que devolveram o punho cerrado ao terceiro anel. Dezasseis anos depois, eu voltei a viver o Benfica. Durante a travessia do deserto, acompanhei o clube por dever, em piloto automático. Era um zombie, um zombie glorioso, mas um zombie. Com Vieira e Jesus, voltei a ter fé, voltei a sentir aquele electricidade das papoilas saltitantes e não sei quê. "Mas Vieira só tem dois campeonatos e Jesus um", grita o sócio impaciente. Pois, mas antes de Vieira e de Jesus, o Benfica era um Bastia com a mania das grandezas.