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Catedral da Luz

Catedral da Luz

O próximo jogo

27.11.12, Nuno Gouveia

A seguir vamos jogar com o 8º classificado do campeonato. Não se pense que vai ser fácil. Os lagartos estão sedentos de vingança pelas épocas miseráveis que têm feito, e tal como ano passado, onde a vitória contra o Benfica foi o momento alto da época, também este ano tentarão repetir a façanha. Rui Oliveira e Costa, ilustre sportinguista e capaz de apreender como poucos o espírito do clube, já o disse: vencer o Benfica pode salvar a época. Já que não podem ganhar títulos e nem sequer disputá-los, os lagartos preocupam-se agora em evitar que o Benfica os conquiste. Será com esse espírito que entrarão em campo em Alvalade. Jorge Jesus precisa de preparar a equipa para o que vai enfrentar: um grupo ferido e raivoso, que dará o que tem e o que não tem para tirar-nos pontos. É óbvio que somos muito superiores, mas nunca se deve minorar o adversário. Muito menos os antigos rivais de Lisboa. Jesus tem ainda de estar preparado para um Xistra ou Proença qualquer que apareça pela frente, pois como ainda observámos nesta última jornada, o clube de Palermo continua a ter do seu lado as ajudas extra do costume. 

Está a chegar a hora da verdade

26.11.12, Filipe Boto Machado

O Bruno Vieira Amaral escreveu, e bem, sobre o desentusiamo existente e identificou as razões para o mesmo. Eu acredito que muitos benfiquistas têm vontade de se voltarem a entusiasmar, mas manda a história recente que sejam mais prudentes.  Mais do que desentusiasmados, estamos desconfiados. Precisamos que a equipa nos mostre algo mais na hora da verdade. Até agora a época não foi fantástica, pois só um milagre nos permitirá seguir na Champions, mas também não tem sido negativa, pois internamente estamos na luta pelo título e mantemo-nos na Taça de Portugal. No entanto, do meu ponto de vista, está a chegar a hora da verdade, os jogos em que se vê a fibra dos campeões. É nestes jogos que todos vamos perceber se temos capacidade para lá chegar. Em meados de Janeiro estaremos entusiasmados ou irremediavelmente desentusiasmados.

A 10ª (visita a Alvalade) e 14ª (recepção ao Porto) jornadas serão importantes e decisivas para a luta pelo título. Em campeonatos equilibrados, os jogos grandes são aqueles que desequilibram a balança, não só pelos 6 pontos que representam (3 ganhos + 3 retirados ao adversário) como também pela carga emocional que representam. Quando fomos campeões, em 09/10, fizemos 10 pontos no campeonato Benfica/Porto/Sporting/Braga: com o Sporting vencemos em casa e empatámos fora; com Porto e Braga, perdemos fora e ganhámos em casa. A vitória frente ao Porto em casa acabou por ser decisiva para cavar um fosso, afastá-los do título e arrancarmos rumo à vitória. Nesse ano, apenas o Braga fez melhor, 12 pontos. Porto fez 9 pontos e Sporting apenas 4. Em 10/11, perdemos com o Porto duas vezes, vencemos o Sporting duas vezes, ganhámos na Luz ao Braga mas perdemos quando nos deslocámos à pedreira. A derrota no Dragão marcou o campeonato. A derrota em Braga acabou com o campeonato. Fizemos 9 pontos contra 16 do Porto, 7 do Sporting e apenas 3 do Braga. Em 11/12, no ano passado, empatámos no Porto e em Braga, vencemos o Braga e o Sporting na Luz, perdemos em Alvalade e na recepção ao Porto. Como todos sabem, a derrota na Luz frente ao Porto foi decisiva para a luta pelo título. A derrota em Alvalade acabou definitivamente com as nossas esperanças. Fizemos 7 pontos contra 14 do Porto, 4 do Braga e 7 do Sporting. A avaliação deste campeonato a quatro diz-nos muito sobre a classificação final. Pode não ser tudo, mas é muito importante. Por exemplo, é curioso verificar que o Porto não foi campeão quando não ganhou em Braga e na Luz, que o Benfica só foi campeão quando venceu o Porto na Luz e o Braga só lutou verdadeiramente pelo título quando teve um bom desempenho nestes jogos grandes (no ano passado, as derrotas na Luz e na recepção ao Porto acabaram com as esperanças do Braga).

Este campeonato está muito desequilibrado a favor de Benfica e Porto. As restantes equipas estão muito fracas. Marítimo, Nacional e Guimarães não são as equipas competitivas de outrora. Este ano perder pontos contra os pequenos será mais resultado de incompetência de Porto ou Benfica e não das dificuldades que as outras equipas colocam. Acredito que os jogos entre as principais equipas serão decisivos para as contas finais e para embalar alguma das equipas para o título. Tudo começa já na próxima jornada quando visitarmos o outro lado da 2ª Circular onde poucos têm perdido pontos este ano. Temos de ganhar. A vitória do Porto ontem em Braga a isso nos obriga. Empatar não chega e terá sabor a derrota. Quero chegar ao dia 13 de Janeiro em posição de recebermos o Porto e nesse jogo podermos passar para a frente do campeonato.

Julgo que são vitórias nestes jogos que nos poderão devolver o entusiasmo sem reservas. O ano passado mostrou-nos que não interessa como começa, mas sim como acaba. Temos de ser fortes e consistentes. Este ano ainda não vimos nada que nos garanta isso. Pelo contrário, na Champions até tivemos alguns sinais contrários. Temos de cumprir a nossa obrigação frente às equipas mais pequenas e desequilibrar o campeonato a nosso favor nos jogos grandes. Alguns estarão a pensar "então e as arbitragens?". Respondo que temos que contar com esse adversário extra. No ano passado foi o Proença que deu um empurrão decisivo, mas nós também nos metemos a jeito quando procurámos o 3-1 desalmadamente com 5/6 jogadores no processo ofensivo e deixámos em campo um perna de pau chamado Emerson. Este ano temos de ser mais fortes. Aqui ao lado, Mourinho só foi campeão quando venceu o Barcelona e os factores extra jogo. A arbitragem tem de ser um adversário com quem temos que ter alguns cuidados especiais, mas temos de vencer estes jogos.

Desentusiasmo

22.11.12, Bruno Vieira Amaral

O Benfica vai ganhando jogos, está na liderança do campeonato, resta uma esperança mínima na Liga dos Campeões, Jorge Jesus reinventou a equipa após as saídas de Javi García e Witsel e, no entanto, não se sente entusiasmo, a alma benfiquista não embandeirou em arco, a alma benfiquista nem sequer embandeirou, está a meia-haste, de luto por qualquer coisa que não sabe bem identificar. E isto só acontece por termos perdido o campeonato como perdemos. Foi um valente pontapé nos tomates da nossa convicção. Perder 5-0 com o Porto de Vilas Boas é algo que mexe com o orgulho, deixa-nos feridos mas vivos, com raiva. Perder um campeonato contra uma equipa “treinada” por um Vítor Pereira, desculpem lá, é coisa para dar cabo da glândula que segrega a fé. Uma pessoa fica prostrada, sem ânimo, zombieficada. O Matic é grande jogador? Pois. Os miúdos vão aparecendo? Pois. O Lima é que é? Pois. O Jardel até se safa? Pois. O campeonato passado instalou-nos o chip da indiferença, que é a protecção espiritual contra os grandes sofrimentos e frustrações. Como é que isto se resolve? Com conquistas. O futebol do primeiro ano de Jesus devolveu-nos a alegria, aquele orgulho imaterial na identidade reencontrada, no jogar à Benfica, mas esse sentimento vago concretizou-se num título. Felicidade absoluta! Agora, já não nos chega o conforto de a equipa não se ter afundado após a venda do meio-campo ao grande capital internacional; já não chega o lugarzinho assegurado na Liga Europa; já não chega ir passando eliminatórias da Taça de Portugal; a cura para o nosso mal está no final da Primavera, na época em que se celebram títulos, e é pena que esta nossa doença da alma nos bloqueie o paladar para os regalos que os nossos jogadores nos têm oferecido.

Clima estranho

17.11.12, Nuno Gouveia

O Benfica alcançou ontem mais uma vitória segura, numa excelente exibição da nossa equipa. Aliás esta época, com algumas excepções como no jogo de Moscovo ou com a Académica, o Benfica tem estado quase sempre ao nível que todos esperamos (o jogo do Barcelona não conta). Mas mesmo assim não se sente grande entusiasmo em redor da equipa. Por vezes, basta uma vitória mal conseguida ou um jogo mais cinzento e logo surge a ameaça de um clima de contestação. Não sei se sou acompanhado por muitos neste diagnóstico, mas penso que a razão para este clima são as duas épocas anteriores. Há dois anos, depois de um inicio muito complicado, em grande parte devido à arbitragem, a equipa de Jesus arrancou para uma brilhante campanha de inverno, com as famosas 18 vitórias seguidas, e se o campeonato sempre esteve longe, a Taça de Portugal e a Liga Europa pareciam ao nosso alcance. Ano passado chegamos a Março com cinco pontos de vantagem no campeonato, e conseguimos cometer a proeza de perdê-lo. Por isso, este ano os benfiquistas temem, e com alguma razão, que a história possa voltar a repetir-se. Espero que os responsáveis do Benfica, especialmente Jorge Jesus, tenham aprendido com os erros recentes. Não sei porquê, mas ontem ao ver aquele Matic, o Jardel e o Luisinho em campo, jogadores por quem dava pouco no inicio da época, fiquei com a sensação que este ano pode ser diferente. Uma época não se ganha com 15 jogadores, mas sim com 22/23. E Jesus parece ter aprendido a lição. Agora é ganhar ao Celtic, assegurar a passagem para a Liga Europa, e esperar que ainda tenhamos alguma hipótese de seguir em frente na Liga dos Campeões. Mas, e que fique bem claro, a preocupação da equipa deve ser sempre o Campeonato. O resto vai-se jogando. 

Ele só sabe marcar golos...

09.11.12, Filipe Boto Machado

Na quarta-feira, frente ao Spartak, o Tacuara fez mais dois golos. Nada de novo. Foi ele que deu sentido ao futebol do Benfica. Sem os seus golos, estaríamos arredados da Liga dos Campeões e todos falariam de uma má exibição. Com os seus golos, vencemos, diz-se que podíamos ter vencido por mais e fizemos uma boa exibição. No entanto, é impressionante como adeptos e comunicação social não dão o devido valor a Cardozo. Nos últimos cinco anos, Óscar Cardozo tem sido o abono de família do Benfica. Golos, golos e mais golos. Apesar disso, continua sem convencer porque "só sabe marcar golos". Como se isso fosse um pormenor irrelevante num jogo de futebol e muitos outros o fizessem com a mesma regularidade.

Os adeptos não lhe perdoam uma perda de bola, não suportam a lentidão que apresenta, contestam o empenho que paraguaio apresenta em campo, não aceitam que não saiba fazer uma finta perfeita e reclamam cada golo que falha. O nível de tolerância ao erro dos benfiquistas com Cardozo é próximo de zero. Vou ver quase todos os jogos ao Estádio da Luz e em todos eles oiço muitas críticas ao Tacuara. Em todos os jogos, à minha volta, oiço expressões como "é mesmo trapalhão", "substitui o homem pah", "mete o Kardec", "não joga mesmo nada", "só sabe marcar golos", "falha os penaltis todos e aquele gajo (JJ) nunca mais aprende e mete outro a marcar", etc. No entanto, na hora da verdade, lá aparece um golo do Tacuara a salvar-nos a vida.

Na comunicação social é mais do mesmo. Luís Freitas Lobo, por exemplo, não o suporta. Cardozo vai contra o romantismo do futebol que Luís Freitas Lobo adora. Estou certo que este senhor gosta mais de ver uma excelente jogada que termina com um falhanço clamoroso do que um remate oportuno de Cardozo que termina em golo. Sempre que o Benfica não ganha e joga mal, os jornais, no dia seguinte, apontam Cardozo entre os culpados, pois o paraguaio só joga se for bem servido e quando a equipa não joga para ele, então ele não faz nada. Várias vezes oiço nos comentários que Cardozo não está a jogar nada, é candidato à substituição e logo depois surge um golo do inevitável Tacuara. Nem a imprensa especializada já conseguiu entender quais as características deste jogador. 

Por mim, gostaria muito que Cardozo se mantivesse muitos anos no Benfica. Quando um dia ele sair, só desejo que possamos encontrar, pelo menos, um ponta-de-lança tão bom quanto ele. Não é rápido? Concordo. Não tem pé direito? Concordo. Mas alguém acredita que Cardozo, se fosse rápido e tivesse um pé direito com metade da qualidade do esquerdo Cardozo ainda estaria em Portugal? Assim de repente, jogadores com cerca de 1,90m, fortes fisicamente, rápidos, tecnicistas, ambidestros e goleadores (a sério) só me lembro de dois: Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo. Estão entre os melhores do Mundo e Cardozo não. Cardozo é um goleador, está lá para marcar golos e dar objectividade ao futebol que a equipa constrói. Os números não mentem e confirmam-no há cinco anos consecutivos. Aqui vão alguns factos: melhor marcador estrangeiro de sempre no Benfica, melhor marcador do campeonato duas vezes e 4º melhor marcador de um clube português nas competições europeias. Não chega? Não estaria na hora de, pelo menos, os benfiquistas o entenderem? Um dia mais tarde, quando já não jogar no Glorioso e tivermos algum jogador irrequieto e lutador mas que não faz golos, estou certo que todos se lembrarão do tosco paraguaio que fazia golos atrás de golos. Nessa altura, Cardozo será lembrado como deve ser: um jogador lento, com limitações técnicas, mas com um óptimo pé esquerdo, goleador, forte física e psicologicamente.

Ele sabe sempre tudo

08.11.12, Filipe Boto Machado

Cardozo ficou no banco, entrou e marcou dois golos. O jornalista fez a pergunta óbvia no final do jogo a JJ: "foi uma decisão acertada apostar em Cardozo apenas ao intervalo?". JJ respondeu que "estava tudo planeado", tinha" a certeza que era melhor assim. Rodrigo foi titular devido à estratégia de jogo. (JJ) sabia que se Cardozo jogasse de início, seria diferente", para pior como é evidente. Este é o mesmo JJ que em tempos argumentou que Cardozo era o tipo de jogador que não entrava bem no jogo vindo do banco, pois precisava de tempo para se adaptar ao ritmo de jogo. Ele também sabia isso. Ele sabe sempre tudo.

E quanto às contas do apuramento? Bom, para JJ, "tudo é (ainda) possível" e pelos visto ele até adivinhou o que aconteceu em Glasgow. Segundo JJ, ele "sabia que o jogo mais complicado do Barcelona iria ser em Glasgow. O Celtic é muito forte por cima e, depois do jogo (do Benfica) em Glasgow, (JJ) disse logo que o Barcelona ia levar golos de bola parada. Infelizmente, (JJ) não queria adivinhar, mas adivinhou". O JJ que estava satisfeito quando empatou em Glasgow e que há duas semanas estava tranquilo quanto ao apuramento depois de perder em Moscovo é o mesmo JJ que sabia que existia uma forte possibilidade do Barcelona perder pontos em Glasgow ao contrário do que aconteceu no Estádio da Luz. Como é óbvio, JJ não foi apanhado desprevenido, ele já estava à espera disto tudo. Este mesmo JJ também saberá neste momento como vão acabar as contas do apuramento. Se passarmos, ele revelará depois que já sabia que o Spartak ia vencer em Glasgow e tinha tudo planeado. Se não passar, dirá que não estará surpreendido, pois sabia que estava na Liga dos Campeões, a jogar contra os melhores e a equipa do Benfica este ano, por falta de experiência, ainda não está a esse nível. Ele fez tudo o que podia e não alteraria nada.

É isto que me dá conforto. Ele sabe sempre tudo, tem tudo planeado e controlado. Se as coisas correrem bem, ele já sabia que iam correr bem. Se correrem mal, ele também já previa que iam correr mal. Se nada fez de diferente para o evitar, era porque não era possível melhor.