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O Sporting entrou em roda livre. Desportivamente, é um buraco sem fundo, uma espiral recessiva de maus resultados. Com a época perdida muito antes do Natal, Godinho Lopes começou a vender os anéis que ainda tinha. Mas uma equipa sem resultados não consegue valorizar os seus jogadores, e, na reabertura do mercado, os negócios de Godinho têm-se saldado por evidentes flops. Para além do mais, há a originalidade da troca com os rivais. Se é verdade que ainda está para se ver quem irá beneficiar da permuta Miguel Lopes/Izmailov, hoje ficámos a saber que o Sporting quer desfazer-se de Ínsua, propondo a troca por Nolito e Alan Kardec. Só pode ser uma brincadeira de mau gosto. Sendo verdade que o lateral esquerdo é um dos melhores jogadores do Sporting, também é que nem meio Nolito vale. E não é tão bom como Alan Kardec. Espero que Luís Filipe Vieira tenha algum juízo e recuse liminarmente - se possível, rindo desdenhosamente na cara de Godinho Lopes - a proposta. Ainda não chegámos ao cabaré da coxa.
P.S.: Acrescento que, por princípio, o Benfica não deveria entrar nestas trocas de jogadores com o Sporting. Que a outra equipa da Segunda Circular deseje tornar-se uma filial do FC Porto na cidade de Lisboa, é lá problema deles. Mas se há valor que deveria ser intocável no futebol é a impossibilidade de um clube como o Benfica fazer negócio com os seus rivais directos.
Com a vitória de ontem terminámos a primeira metade da época e todos os benfiquistas podem estar satisfeitos. Estamos na liderança do campeonato, ainda não perdemos, somos claramente favoritos para vencer a Taça de Portugal e estamos na luta pela Liga Europa. Na Taça da Liga também estamos em prova e ainda não perdemos nas competições portugueses. Os únicos destaques negativos vão para a eliminação da Liga dos Campões, onde devíamos ter feito melhor, e o empate alcançado na Luz contra os andrades. Não fossem as desilusões das duas últimas épocas e haveria um clima de euforia em redor da equipa. Mas isso nem é negativo. Todos temos de perceber, incluindo os adeptos mas sobretudo os dirigentes, a equipa técnica e os jogadores, que ainda não ganhamos nada e só agora as maiores adversidades irão começar. A exemplo do que sucedeu ano passado, é de esperar que os senhores de negro ataquem em alturas cirúrgicas. Mas Jesus tem de nos provar que aprendeu com os erros. As suas equipas costumam chegar a Fevereiro/Março e dar o estouro fisicamente e até animicamente. Parece-me que a gestão deste ano tem sido melhor, não concentrando sempre tudo nos mesmos: Artur, Luisão, Garay, Jardel, Maxi Pereira, Luizinho, André Almeida, André Gomes, Enzo Perez, Matic, Nolito, Carlos Martins, Aimar, Carlos Martins, Ola John, Gaitán, Sálvio, Rodrigo, Cardozo e Lima todos têm tido e vão continuar a ter minutos de jogo. E ainda há Kardec e o Paulo Lopes. São vinte e dois jogadores, algo diferente do que estávamos habituados. Que ganhemos ao Braga no próximo fim de semana e iniciemos a segunda volta da melhor maneira.
PS: a confirmar-se, a manutenção do Aimar é a melhor notícia que podíamos ter. Porque será certamente importante para a conquista do título, mas também porque Aimar merece sair do Benfica campeão e ovacionado de pé por 65 mil pessoas. Ou centenas de milhar de pessoas nas ruas de Lisboa.
Não podia deixar passar mais tempo sem escrever aqui. O futebol do Glorioso não é o mesmo de há uns meses e, mesmo, de há uns anos. Quer queiramos quer não, Jorge Jesus acertou o passo e, atrevo-me a dizer, lançou o SL Benfica para uma senda, não direi de títulos, mas de estabilidade competitiva.
O SL Benfica é hoje um clube de futebol em que os seus sócios e adeptos acreditam, e para isso muito contribui a prestação desportiva da sua equipa principal. Há muito tempo que não via a minha equipa com uma segunda opção para cada posição e a jogar de forma estável e regular (o que pressupõe ganhar e estar na liderança em diversas competições). Não sei a quem atribuir o mérito principal, por isso distribuo-o por toda a equipa directiva e pelos atletas. Este meu Benfica tem vindo a ganhar estofo europeu e, a continuar assim, "arriscamo-nos" a dar por garantida a presença na Champions todos os anos.
Não quero que se olhe para isto com condescendência. Todos conhecemos o nosso passado. Todos sabemos que houve erros cometidos pelas direcções anteriores e também pela actual direcção, bem como pelas equipas desportivas. No entanto, deparamo-nos hoje (mesmo não ganhando ao FC Porto e ao FC Barcelona) com uma maturidade que quase sempre vimos e vemos nas grandes equipas inglesas e espanholas, e a qual sempre ambicionámos ter.
Por isso, há que dar relevância ao facto de estarmos bem, mesmo com perdas destas: de termos grandes goleadores (até o Kardec marca), de termos uma grande defesa em construção (de salientar o regresso do Roderick), e de termos uma revelação/confirmação, como é a do "patrão" Matic.
Não nos deslumbremos e não façamos de contas que não há desgastes, mas também não deixemos de aplaudir e de apoiar a nossa equipa! Principalmente agora!
Parece que Pablo Aimar vai abandonar o Benfica. Pelo que se conhece da situação, ninguém poderá recriminar Aimar ou a direcção do Benfica pela situação. Aimar e a sua família merecem que ele termine a carreira com um grande contrato. Nada contra. Mas não se pense deixar sair Aimar sem aquilo que ele, mais do que ninguém, conquistou por direito próprio: uma despedida a sério, com o Estádio da Luz de pé a aplaudir aquele que foi, provavelmente, o melhor jogador que passou pelo Benfica nas últimas décadas. Se não for agora, que regresse no final da época para festejar o título connosco e ser aclamado como merece. Além das suas excepcionais qualidades futebolísticas, destaco ainda a sua grande personalidade, que encarna como poucos a alma benfiquista. Hoje Aimar pode sair do clube, mas a porta ficará para sempre aberta ao seu regresso. Como ele desejar.
Crónica do Expresso online de hoje
Com o rigor científico do costume, posso garantir que o nosso esquelético PIB subiu uns, vá, 0,25% quando o aríete eslavo furou as redes da agremiação norte-coreana . Assim que se consumou, aquela geometria metafísica desenhada por Gaitán, Melgarejo, Lima, Cardozo e Matic animou os bolsos da pátria. Só em consumo de cerveja e tremoço, a economia teve ali um estímulo como há muito não tinha. Porque aquele golo não é apenas um golo. Aquele golo tem de ser descrito no plural: são e serão sempre seis linhas rectas unidas pela fé e pela memória. Daqui a 20 anos, várias conversas regadas a cerveja e rodeadas de cascas de tremoços começarão com o "lembras-te daquele golo do Matic quando fomos campeões em 2013?". Aquilo é um recorte de memória para emoldurar, tal como a trivela de Kulkov em Leverkusen, tal como a cabeçada de César Brito nas Antas, tal o míssil de Isaías em Londres, tal como a bicicleta de Miccoli em Liverpool.
Como dizia há pouco, o golo de Matic já está na memória do futuro mas também está na fezada aqui e agora. O jogo reforçou a minha fé na vitória no campeonato. Os nervos do clube rival são, aliás, um bom sinal. Cresci com o Benfica a ser esmagado pela agremiação norte-coreana. Há uns 10 anos, se levasse um golo logo aos 5 minutos, o Benfica sairia do estádio com uma goleada. No domingo, vi uma coisa diferente, vi o Benfica dar a volta frente aos norte-coreanos. E isso é uma ruptura epistemológica, pá, é o mesmo que ver uma bola subir uma rampa sozinha, desafiando todas as regras da gravidade. A equipa aguentou-se, virou duas vezes o resultado e podia ter vencido com toda a justiça. Sim, com toda a justiça. Ai, ai, o adversário controlou o jogo, blá-blá-blá, ai, a semiótica do meio-campo, ai, a cultura da posse de bola, blá-blá-blá.
Jogar à bola é rematar à baliza ou é andar a brincar com ela? Na segunda parte, o Benfica teve as únicas chances de golo. Se tivesse rins, Jardel teria rodado para o golo; se tivesse olhos, Salvio teria metido a bola num Cardozo tão isolado como um homem honesto no parlamento; se não tivesse a cabeça nas arábias, Aimar teria cabeceado para um golo anulado pelo bandeirinha; se um raio tivesse fulminado Helton, Cardozo teria feito o golo da sua carreira. Enquanto o Benfica dava este espectáculo de desperdício, o adversário não rematou à baliza na segunda parte. Acabámos por cima, com o guarda Abel a fazer substituições defensivas. Ah, pois, a semiótica do meio-campo, já me esquecia.
PS: já agora, a semiótica do meio-campo deu 50% para cada lado. Mas a ladainha pegou. Parece que o Benfica tem de comprar um Barthes para o meio-campo.
O golo de Matic não foi uma obra de arte. As obras de arte são bens transaccionáveis, orgulho de museus e coleccionadores. Joe Berardo, por exemplo, tem uma data delas. O golo de Matic foi uma manifestação pura de beleza que cada um de nós há-de guardar no cofre particular da memória. Não foi apenas um remate fantástico, que também foi, foi igualmente geometria, poesia e metafísica (já explico esta) em movimento, um movimento sobre o qual nem é lícito falar-se no pretérito porque, na sua perfeição, ainda está a acontecer. A parte da metafísica explica-se porque a corda emocional tocada por um golo destes no coração de um benfiquista é mais vibrátil do que a de um espectador neutro, já para não falar de um adepto da equipa adversária. Como no futebol não há justiça, o golo de Matic não valeu por dois, e isso é que seria justo. É a crueldade da matemática. Mas na matemática das emoções aquele golo, apesar de não nos ter dado a vitória, é um multiplicador de alegria. Saltei, gritei e, quando vi a repetição, fiquei especado a olhar para as imagens: que golo do caralho! E, então, sem que qualquer culpa lhe possa ser atribuída, pontapeei a cadeira.
Os andrades apareceram na Luz com uma baixa de vulto. Não, não foi James que faltou a chamada, mas sim aquele que verdadeiramente faz a diferença de um momento para o outro: «o melhor árbitro português meteu férias». Infelizmente, suspeito que o "melhor árbitro português" já estará apto e disponível para apitar o clássico da penúltima jornada do campeonato e desequilibrar a balança para o lado do costume. As estapafúrdias reclamações dos andrades no fim do jogo só fazem sentido num contexto de pressão para que na penúltima jornada o "melhor árbitro português" entre em campo para reforçar as cores habituais. Como benfiquista desejo exactamente o oposto. Oxalá parta uma perna até lá ou tenha uma insuportável dor de barriga nas horas que antecederem o jogo. Se alguém lhe partir os dentes também não me parece mal. Apenas o quero fora das quatro linhas naquele dia. De pseudo-benfiquistas como este apenas quero distância.
Empate a 2 golos, jogo emotivo, intenso e competitivo. Podíamos ter ganho, dificilmente podíamos ter perdido. No entanto, não fiquei seguro quanto ao nosso futuro no campeonato. Esta história de tentar ganhar um jogo sem ganhar o meio-campo continua a fazer-me imensa confusão. O Benfica só consegue estar por cima num jogo se o dominar. É bom para o espectáculo, mas é péssimo para o coração dos adeptos. Nunca o consegue controlar. Ataca de forma ansiosa, desorganizada, sempre como se cada jogada fosse a última do jogo. A atitude é muito parecida independentemente do resultado e do adversário. A ideia de jogo passa por atacar o adversário com tudo o que tem, principalmente pelas alas. Quando não consegue sair a jogar pelos centrais e laterais, fica sujeito ao pontapé longo, pois não tem quem troque a bola no centro do campo. É verdade que é possível criar mais perigo pelas alas, mas é impossível controlar um jogo nessa zona do terreno. A entrada de Aimar (completamente em baixo de forma) e Carlos Martins tirou-nos poder ofensivo, mas finalmente sentimo-nos mais seguros. Era evidente que Matic e Enzo contra Lucho, Moutinho, Fernando e Defour era pouco. JJ demorou uma hora a perceber isso mesmo. Gaitan jogou todo o tempo sem ninguém para defender na esquerda (Defour vinha para o meio), mas mesmo assim nunca foi visto a reforçar a luta a meio-campo. Enfim, mostrámos coragem, poder ofensivo e capacidade técnica muito superior ao adversário, mas decidimos entregar o meio-campo aos andrades, opção vista e revista esta época sempre que o jogo é contra um adversário mais forte. Espero que, de uma vez por todas, JJ perceba que deve adaptar a equipa nestes jogos. Na maioria dos jogos em Portugal, o 4-2-4 funciona, dois no meio-campo chegam e sobram, permitindo-nos ter mais força ofensiva, mas em certos jogos devemos procurar ter mais segurança, pois assim não há coração que aguente.
O árbitro? Quando ouvi as críticas de Vitor Pereira julguei que estava a ouvir mal. Durante o jogo todo, Lucho, Defour e Moutinho deram pancada em tudo o que mexia, Mangala e Fernando também não podiam ter escapado sem amarelos ainda na primeira parte, vários jogadores do Porto atiraram a bola para longe quando jogo estava interrompido (no ano passado Emerson foi expulso com um primeiro amarelo deste estilo) e até Lucho e Helton trocaram um abraço antes do primeiro ser substituído. Perante isto, criticar o trabalho do árbitro nos lances que lhes favoreciam e esquecer aqueles em que nos prejudicou só podia vir daquele clube. O mensageiro é que foi diferente do costume. Tentou fazer a figura de bruto e acabou a fazer figura triste.