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Catedral da Luz

Catedral da Luz

Brincadeiras de mau gosto

23.01.13, Sérgio Lavos

O Sporting entrou em roda livre. Desportivamente, é um buraco sem fundo, uma espiral recessiva de maus resultados. Com a época perdida muito antes do Natal, Godinho Lopes começou a vender os anéis que ainda tinha. Mas uma equipa sem resultados não consegue valorizar os seus jogadores, e, na reabertura do mercado, os negócios de Godinho têm-se saldado por evidentes flops. Para além do mais, há a originalidade da troca com os rivais. Se é verdade que ainda está para se ver quem irá beneficiar da permuta Miguel Lopes/Izmailov, hoje ficámos a saber que o Sporting quer desfazer-se de Ínsua, propondo a troca por Nolito e Alan Kardec. Só pode ser uma brincadeira de mau gosto. Sendo verdade que o lateral esquerdo é um dos melhores jogadores do Sporting, também é que nem meio Nolito vale. E não é tão bom como Alan Kardec. Espero que Luís Filipe Vieira tenha algum juízo e recuse liminarmente - se possível, rindo desdenhosamente na cara de Godinho Lopes - a proposta. Ainda não chegámos ao cabaré da coxa.

 

P.S.: Acrescento que, por princípio, o Benfica não deveria entrar nestas trocas de jogadores com o Sporting. Que a outra equipa da Segunda Circular deseje tornar-se uma filial do FC Porto na cidade de Lisboa, é lá problema deles. Mas se há valor que deveria ser intocável no futebol é a impossibilidade de um clube como o Benfica fazer negócio com os seus rivais directos.

So far, so good...

22.01.13, Nuno Gouveia

Com a vitória de ontem terminámos a primeira metade da época e todos os benfiquistas podem estar satisfeitos. Estamos na liderança do campeonato, ainda não perdemos, somos claramente favoritos para vencer a Taça de Portugal e estamos na luta pela Liga Europa. Na Taça da Liga também estamos em prova e ainda não perdemos nas competições portugueses. Os únicos destaques negativos vão para a eliminação da Liga dos Campões, onde devíamos ter feito melhor, e o empate alcançado na Luz contra os andrades. Não fossem as desilusões das duas últimas épocas e haveria um clima de euforia em redor da equipa. Mas isso nem é negativo. Todos temos de perceber, incluindo os adeptos mas sobretudo os dirigentes, a equipa técnica e os jogadores, que ainda não ganhamos nada e só agora as maiores adversidades irão começar. A exemplo do que sucedeu ano passado, é de esperar que os senhores de negro ataquem em alturas cirúrgicas. Mas Jesus tem de nos provar que aprendeu com os erros. As suas equipas costumam chegar a Fevereiro/Março e dar o estouro fisicamente e até animicamente. Parece-me que a gestão deste ano tem sido melhor, não concentrando sempre tudo nos mesmos: Artur, Luisão, Garay, Jardel, Maxi Pereira, Luizinho, André Almeida, André Gomes, Enzo Perez, Matic, Nolito, Carlos Martins, Aimar, Carlos Martins, Ola John, Gaitán, Sálvio, Rodrigo, Cardozo e Lima todos têm tido e vão continuar a ter minutos de jogo. E ainda há Kardec e o Paulo Lopes. São vinte e dois jogadores, algo diferente do que estávamos habituados. Que ganhemos ao Braga no próximo fim de semana e iniciemos a segunda volta da melhor maneira.

 

PS: a confirmar-se, a manutenção do Aimar é a melhor notícia que podíamos ter. Porque será certamente importante para a conquista do título, mas também porque Aimar merece sair do Benfica campeão e ovacionado de pé por 65 mil pessoas. Ou centenas de milhar de pessoas nas ruas de Lisboa. 

Factos agradáveis também são notícia

18.01.13, João Santana Lopes

Não podia deixar passar mais tempo sem escrever aqui. O futebol do Glorioso não é o mesmo de há uns meses e, mesmo, de há uns anos. Quer queiramos quer não, Jorge Jesus acertou o passo e, atrevo-me a dizer, lançou o SL Benfica para uma senda, não direi de títulos, mas de estabilidade competitiva.

O SL Benfica é hoje um clube de futebol em que os seus sócios e adeptos acreditam, e para isso muito contribui a prestação desportiva da sua equipa principal. Há muito tempo que não via a minha equipa com uma segunda opção para cada posição e a jogar de forma estável e regular (o que pressupõe ganhar e estar na liderança em diversas competições). Não sei a quem atribuir o mérito principal, por isso distribuo-o por toda a equipa directiva e pelos atletas. Este meu Benfica tem vindo a ganhar estofo europeu e, a continuar assim, "arriscamo-nos" a dar por garantida a presença na Champions todos os anos.

Não quero que se olhe para isto com condescendência. Todos conhecemos o nosso passado. Todos sabemos que houve erros cometidos pelas direcções anteriores e também pela actual direcção, bem como pelas equipas desportivas. No entanto, deparamo-nos hoje (mesmo não ganhando ao FC Porto e ao FC Barcelona) com uma maturidade que quase sempre vimos e vemos nas grandes equipas inglesas e espanholas, e a qual sempre ambicionámos ter.

Por isso, há que dar relevância ao facto de estarmos bem, mesmo com perdas destas: de termos grandes goleadores (até o Kardec marca), de termos uma grande defesa em construção (de salientar o regresso do Roderick), e de termos uma revelação/confirmação, como é a do "patrão" Matic.

Não nos deslumbremos e não façamos de contas que não há desgastes, mas também não deixemos de aplaudir e de apoiar a nossa equipa! Principalmente agora!

Uma despedida a sério

18.01.13, Nuno Gouveia

 

Parece que Pablo Aimar vai abandonar o Benfica. Pelo que se conhece da situação, ninguém poderá recriminar Aimar ou a direcção do Benfica pela situação. Aimar e a sua família merecem que ele termine a carreira com um grande contrato. Nada contra. Mas não se pense deixar sair Aimar sem aquilo que ele, mais do que ninguém, conquistou por direito próprio: uma despedida a sério, com o Estádio da Luz de pé a aplaudir aquele que foi, provavelmente, o melhor jogador que passou pelo Benfica nas últimas décadas. Se não for agora, que regresse no final da época para festejar o título connosco e ser aclamado como merece. Além das suas excepcionais qualidades futebolísticas, destaco ainda a sua grande personalidade, que encarna como poucos a alma benfiquista. Hoje Aimar pode sair do clube, mas a porta ficará para sempre aberta ao seu regresso. Como ele desejar.

Última hora: golo de Matic faz disparar o PIB

17.01.13, Henrique Raposo

 

Crónica do Expresso online de hoje

 

 

Com o rigor científico do costume, posso garantir que o nosso esquelético PIB subiu uns, vá, 0,25% quando o aríete eslavo furou as redes da agremiação norte-coreana . Assim que se consumou, aquela geometria metafísica desenhada por Gaitán, Melgarejo, Lima, Cardozo e Matic animou os bolsos da pátria. Só em consumo de cerveja e tremoço, a economia teve ali um estímulo como há muito não tinha. Porque aquele golo não é apenas um golo. Aquele golo tem de ser descrito no plural: são e serão sempre seis linhas rectas unidas pela fé e pela memória. Daqui a 20 anos, várias conversas regadas a cerveja e rodeadas de cascas de tremoços começarão com o "lembras-te daquele golo do Matic quando fomos campeões em 2013?". Aquilo é um recorte de memória para emoldurar, tal como a trivela de Kulkov em Leverkusen, tal como a cabeçada de César Brito nas Antas, tal o míssil de Isaías em Londres, tal como a bicicleta de Miccoli em Liverpool.

Como dizia há pouco, o golo de Matic já está na memória do futuro mas também está na fezada aqui e agora. O jogo reforçou a minha fé na vitória no campeonato. Os nervos do clube rival são, aliás, um bom sinal. Cresci com o Benfica a ser esmagado pela agremiação norte-coreana. Há uns 10 anos, se levasse um golo logo aos 5 minutos, o Benfica sairia do estádio com uma goleada. No domingo, vi uma coisa diferente, vi o Benfica dar a volta frente aos norte-coreanos. E isso é uma ruptura epistemológica, pá, é o mesmo que ver uma bola subir uma rampa sozinha, desafiando todas as regras da gravidade. A equipa aguentou-se, virou duas vezes o resultado e podia ter vencido com toda a justiça. Sim, com toda a justiça. Ai, ai, o adversário controlou o jogo, blá-blá-blá, ai, a semiótica do meio-campo, ai, a cultura da posse de bola, blá-blá-blá. 

Jogar à bola é rematar à baliza ou é andar a brincar com ela? Na segunda parte, o Benfica teve as únicas chances de golo. Se tivesse rins, Jardel teria rodado para o golo; se tivesse olhos, Salvio teria metido a bola num Cardozo tão isolado como um homem honesto no parlamento; se não tivesse a cabeça nas arábias, Aimar teria cabeceado para um golo anulado pelo bandeirinha; se um raio tivesse fulminado Helton, Cardozo teria feito o golo da sua carreira. Enquanto o Benfica dava este espectáculo de desperdício, o adversário não rematou à baliza na segunda parte. Acabámos por cima, com o guarda Abel a fazer substituições defensivas. Ah, pois, a semiótica do meio-campo, já me esquecia.

PS: já agora, a semiótica do meio-campo deu 50% para cada lado. Mas a ladainha pegou. Parece que o Benfica tem de comprar um Barthes para o meio-campo.

O que importa

15.01.13, Bruno Vieira Amaral

O golo de Matic não foi uma obra de arte. As obras de arte são bens transaccionáveis, orgulho de museus e coleccionadores.  Joe Berardo, por exemplo, tem uma data delas. O golo de Matic foi uma manifestação pura de beleza que cada um de nós há-de guardar no cofre particular da memória. Não foi apenas um remate fantástico, que também foi, foi igualmente geometria, poesia e metafísica (já explico esta) em movimento, um movimento sobre o qual nem é lícito falar-se no pretérito porque, na sua perfeição, ainda está a acontecer. A parte da metafísica explica-se porque a corda emocional tocada por um golo destes no coração de um benfiquista é mais vibrátil do que a de um espectador neutro, já para não falar de um adepto da equipa adversária. Como no futebol não há justiça, o golo de Matic não valeu por dois, e isso é que seria justo. É a crueldade da matemática. Mas na matemática das emoções aquele golo, apesar de não nos ter dado a vitória, é um multiplicador de alegria. Saltei, gritei e, quando vi a repetição, fiquei especado a olhar para as imagens: que golo do caralho! E, então, sem que qualquer culpa lhe possa ser atribuída, pontapeei a cadeira.

Uma baixa de vulto

14.01.13, Filipe Boto Machado

Os andrades apareceram na Luz com uma baixa de vulto. Não, não foi James que faltou a chamada, mas sim aquele que verdadeiramente faz a diferença de um momento para o outro: «o melhor árbitro português meteu férias». Infelizmente, suspeito que o "melhor árbitro português" já estará apto e disponível para apitar o clássico da penúltima jornada do campeonato e desequilibrar a balança para o lado do costume. As estapafúrdias reclamações dos andrades no fim do jogo só fazem sentido num contexto de pressão para que na penúltima jornada o "melhor árbitro português" entre em campo para reforçar as cores habituais. Como benfiquista desejo exactamente o oposto. Oxalá parta uma perna até lá ou tenha uma insuportável dor de barriga nas horas que antecederem o jogo. Se alguém lhe partir os dentes também não me parece mal. Apenas o quero fora das quatro linhas naquele dia. De pseudo-benfiquistas como este apenas quero distância.

 

Tudo empatado

14.01.13, Filipe Boto Machado

Empate a 2 golos, jogo emotivo, intenso e competitivo. Podíamos ter ganho, dificilmente podíamos ter perdido. No entanto, não fiquei seguro quanto ao nosso futuro no campeonato. Esta história de tentar ganhar um jogo sem ganhar o meio-campo continua a fazer-me imensa confusão. O Benfica só consegue estar por cima num jogo se o dominar. É bom para o espectáculo, mas é péssimo para o coração dos adeptos. Nunca o consegue controlar. Ataca de forma ansiosa, desorganizada, sempre como se cada jogada fosse a última do jogo. A atitude é muito parecida independentemente do resultado e do adversário. A ideia de jogo passa por atacar o adversário com tudo o que tem, principalmente pelas alas. Quando não consegue sair a jogar pelos centrais e laterais, fica sujeito ao pontapé longo, pois não tem quem troque a bola no centro do campo. É verdade que é possível criar mais perigo pelas alas, mas é impossível controlar um jogo nessa zona do terreno. A entrada de Aimar (completamente em baixo de forma) e Carlos Martins tirou-nos poder ofensivo, mas finalmente sentimo-nos mais seguros. Era evidente que Matic e Enzo contra Lucho, Moutinho, Fernando e Defour era pouco. JJ demorou uma hora a perceber isso mesmo. Gaitan jogou todo o tempo sem ninguém para defender na esquerda (Defour vinha para o meio), mas mesmo assim nunca foi visto a reforçar a luta a meio-campo. Enfim, mostrámos coragem, poder ofensivo e capacidade técnica muito superior ao adversário, mas decidimos entregar o meio-campo aos andrades, opção vista e revista esta época sempre que o jogo é contra um adversário mais forte. Espero que, de uma vez por todas, JJ perceba que deve adaptar a equipa nestes jogos. Na maioria dos jogos em Portugal, o 4-2-4 funciona, dois no meio-campo chegam e sobram, permitindo-nos ter mais força ofensiva, mas em certos jogos devemos procurar ter mais segurança, pois assim não há coração que aguente.

O árbitro? Quando ouvi as críticas de Vitor Pereira julguei que estava a ouvir mal. Durante o jogo todo, Lucho, Defour e Moutinho deram pancada em tudo o que mexia, Mangala e Fernando também não podiam ter escapado sem amarelos ainda na primeira parte, vários jogadores do Porto atiraram a bola para longe quando jogo estava interrompido (no ano passado Emerson foi expulso com um primeiro amarelo deste estilo) e até Lucho e Helton trocaram um abraço antes do primeiro ser substituído. Perante isto, criticar o trabalho do árbitro nos lances que lhes favoreciam e esquecer aqueles em que nos prejudicou só podia vir daquele clube. O mensageiro é que foi diferente do costume. Tentou fazer a figura de bruto e acabou a fazer figura triste.

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