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Catedral da Luz

Catedral da Luz

No país dos árbitros não há cavalheiros

27.09.13, Henrique Raposo

 

Crónica de hoje do Expresso online

 

Faltam muitos ismos a Portugal, mas estou desconfiado que a escassez de cavalheirismo está no topo da lista. Não, não estou a falar da delicadeza com as senhoras. Esse é o lado gingão do cavalheirismo. Falemos apenas da essência da coisa, por favor. Que essência é essa? Como diria o meu amigo Francisco Mendes da Silva, o cavalheiro é aquele que sabe reconhecer o mérito alheio, é o paxá que tem a auto-confiança necessária para assumir que o adversário mereceu ganhar. Não, não o confundam com o idiota que não se incomoda com a derrota. Cavalheiro não é eufemismo de falhado. O cavalheiro não gosta de perder, mas consegue ver dignidade na vitória do adversário. Até porque a sua evolução dependente desse acto de humildade. Só podemos corrigir erros se admitirmos a existência dos erros, não é verdade? 

Em Portugal, o cavalheiro passa por totó. Um facto bem evidente no futebol, o passatempo nacional. As equipas e respectivos adeptos nunca reconhecem o mérito do adversário. Sei do que falo. Como benfiquista, não tenho paciência para os benfiquistas que só fazem mal ao Benfica através das teorias da conspiração anti-Pinto da Costa. Nos últimos vinte anos só ganhámos três campeonatos, o resultado de precipitações, incompetência e amadorismo (a época passada está incluída nesta trindade negra). Mas, para milhões de benfiquistas, o Benfica perdeu a hegemonia do futebol português só por causa da relação promíscua entre Pinto da Costa e os árbitros. Essa relação existiu, mas não explica por si só o nosso fracasso. Não foi Pinto da Costa que contratou Tahar, Pringle, Quique Flores ou Emerson. Não foi Pinto da Costa que elegeu Vale e Azevedo. Não se pense porém que os benfiquistas têm o monopólio da falta de cavalheirismo. Em 2010, o Benfica ganhou o campeonato, apresentando o melhor futebol das últimas décadas em Portugal. Apesar da evidente superioridade do Glorioso, os adeptos do FC Porto nunca largaram a lengalenga do "túnel". E como é que justificam a hegemonia do Benfica ao longo dos anos 60 e 70? Era o clube de Salazar, dizem.

Com uma preguiça aflitiva, as TVs patrocinam este clima há décadas através dos inenarráveis paineleiros, verdadeiras comadres do bate-boca taberneiro. Até parece piadinha: estes senhores recebem milhares de euros para manterem conversas que podemos ouvir de borla ali na tasca do Zé. E o pior é que os jornais também acolheram este ar rasteirinho. Os cronistas que vestem as camisolas acabam por cair no habitual choradinho de queixas e insinuações. Ninguém parece interessado em partilhar o amor pelo clube, as suas memórias, as suas idas ao estádio, etc. Ou seja, ninguém parece interessado em escrever, em cronicar. E, acima de tudo, ninguém quer saber do cavalheirismo. Resultado? Como ninguém consegue assumir a justiça da vitória alheia, a conversa não sai do lero-lero sobre penáltis e um erro do árbitro deixa de ser um acaso e passa a ser a prova definitiva de um esquema maquiavélico.

Moral da história? Os outros nunca têm mérito, aliás, não existe mérito. É assim no futebol e, estou desconfiado, na vidinha em geral. O tuga encontra sempre um árbitro malévolo no trabalho, na escola, na estrada. A culpa nunca é nossa. 

Foi por dois minutos...

04.09.13, Filipe Boto Machado

Siqueira, é este o nome do lateral esquerdo que o Benfica inscreveu na Liga às 23h58m. Declarações do director desportivo do Granada permitem-nos saber que Siqueira chegou a estar a um pequeno passo do Real Madrid. Por falta de tempo, Coentrão não saiu do Real para o Manchester, Siqueira deixou de interessar ao Real e assim o Benfica teve a oportunidade de o contratar. Foi por muito pouco que o Benfica conseguiu a sua contratação. Foi por apenas 2 minutos que o Benfica o conseguiu inscrever na Liga.

Que interessa esta história? Hoje, ao ter conhecimento que Siqueira, ao contrário de Cortez, está na lista do Benfica para a Champions, percebi que Cortez, um dos jogadores com mais minutos desta pré-época, que arriscava ser a única opção do Benfica para a lateral esquerda, deixou de contar para JJ. Por dois minutos, o Benfica deixou de contar com um jogador. A parte boa é saber que Siqueira vem para ser titular e Cortez vai ser encostado (nunca o vi jogar, mas não é difícil ser melhor). A parte má é notar este extraordinário planeamento que fez com que Cortez, por uma feliz sequência de acontecimentos e a apenas dois minutos do fim do prazo de inscrições em Portugal, passasse de única opção, obrigatoriamente titular em todos os jogos da época, para não inscrito nas competições europeias e ,aparentemente, carta fora do baralho. Desta vez correu bem...

 

PS: O Benfica tem quatro laterais, Maxi, Sílvio, Cortez e Siqueira, três deles são emprestados. Porque gastamos tanto dinheiro em médios ofensivos e as laterais da defesa são ocupadas por jogadores emprestados? É uma simples decisão de construção do plantel ou trata-se de uma decisão de investimento em jogadores cujas posições tenham maior valorização no momento da venda?

Fechou o mercado

03.09.13, Filipe Boto Machado

Fechou o mercado para entradas de novos jogadores. Restam Rússia, Turquia e Roménia como origem dos possíveis clubes compradores de algum dos nossos jogadores mais cobiçados. Até agora, não saiu nenhum dos jogadores mais importantes da temporada passada e entraram várias caras novas de qualidade. Investiu-se muito dinheiro e pouco ou nada entrou em troca. Estamos mais fortes, mas também mais endividados. O que não saiu este ano terá de sair no próximo. Não tem como ser de outro modo. No entanto, por enquanto, já que ninguém saiu devíamos aproveitar a overdose de talento que temos no plantel para, no mínimo, sermos campeões.

LFV fez um esforço muito significativo para dar a JJ todos os recursos. Entraram Markovic (10M€), Sulejmani (0€), Djuricic (6M€), Funes Mori (2M€+Mora), Fejsa (4M€), Cortez (emprestado), Sílvio (emprestado) e Siqueira (emprestado). Oblack e Ruben Amorim regressaram de um ano de empréstimo. Além disso, ainda gastámos dinheiro a contratar jogadores para emprestar: Pizzi (troca com Roberto), Fariña (2,5M€) e Lisandro (4M€). Finalmente, contratámos também para encostar: Mitrovic (1M€) não tem onde jogar e está a trabalhar com Carlos Martins (excelente renovação de contrato) e Yannick (grande contratação) na equipa B. Mais coisa menos coisa, o Benfica investiu ~30M€ e encaixou apenas ~8M€ com as vendas de Melgarejo e Nolito.

Desde que fomos campeões, este é o primeiro ano em que alguém convenceu JJ a ter dois jogadores em cada posição. Finalmente! Se Siqueira confirmar as boas referências, temos lateral esquerdo. Maxi na direita, Silvío nos dois lados servem perfeitamente para as encomendas. Cortez não serve para nada. No centro, uma grande dupla de centrais, Garay e Luisão, com alternativas uns bons furos abaixo, Jardel e Steven Vitória. O meio campo conta com os indiscutíveis Matic e Enzo, com a cobertura de Amorim, Fejsa, André Gomes e André Almeida. No meio ofensivo abundam as opções para JJ: a Salvio, Gaitán e Ola John, juntaram-se Markovic, Sulejmani e Djuricic. Na frente, a Lima, Cardozo e Rodrigo, juntou-se ainda, o desejado há mais de dois anos, Funes Mori.

Na minha opinião, temos, de longe, o melhor plantel em Portugal. Conseguimos fazer um onze titular muito bom e temos alternativas no banco que seriam titulares nos nossos adversários. Em Alvalade, por exemplo, Djuricic e Ola John ficaram fora dos convocados porque lá estavam Salvio, Gaitán, Markovic e Sulejmani para as suas posições. Djuricic e Ola John seriam provavelmente titulares nos nossos rivais. Eu, pelo menos, não os trocava por Licá, Varela, Josué, Carrillo, Capel ou Wilson Eduardo. E Urreta, que nem foi inscrito, que utilização teria em qualquer dos nossos rivais? Dá que pensar...

Perante isto, o que nos falta para sermos campeões? Na minha opinião, um treinador competente. Um bom treinador e não um que diz que é bom. Um treinador que não perca o meio campo nos jogos grandes, não viva das individualidades no plano ofensivo, seja capaz de ler o jogo no banco, jogue de acordo com os seus pontos fortes e com os pontos fracos do adversário. Por exemplo, ao contrário do Sporting, não fizemos nada disso no passado sábado. Enquanto que o Sporting explorou as costas dos nossos laterais, com André Martins a juntar-se a Carrillo para explorarem a presença de um "pino" chamado Cortez, nós nunca fomos capazes de explorar as constantes subidas de Jefferson ou Cédric. Perdemos completamente o meio campo, pois jogámos o tempo todo com duas unidades face a três/quatro unidades do Sporting. Vivemos de individualidades, do muito maior talento que temos no plantel. Tem sido por causa destes pormenores, na hora das decisões, que o Benfica tem perdido títulos.

Temos um plantel muito bom e o campeonato a sério ainda está para começar. Vamos esperar que o talento deste plantel suplante a incompetência do treinador e no fim possamos cantar vitória.

Curtas do derby

01.09.13, Nuno Gonçalo Poças

- O Cortez faz-me ter saudades do Emerson.

- O Luisão fez uma exibição digna de mandar os adeptos praticar o sexo anal.

- O Garay é um senhor jogador.

- O Cortez faz-me pensar que o Pesaresi pode ter sido uma das melhores contratações de sempre.

- O Matic está uns furinhos abaixo, mas continua a ser um senhor jogador.

- O Maxi não tem pernas nem para acompanhar uma velhinha a atravessar a rua.

- O Cortez não é jogador de futebol.

- Três substituições provocadas por lesões é azar. Duas delas terem sido musculares significa que na pré-época andou tudo mais preocupado com coisas com as quais um treinador e um plantel não se devem preocupar.

- Mesmo sem marcar golos, a falta que o Cardozo faz ao futebol do Benfica é gritante.

- O Rodrigo só chegará longe se jogar como avançado único.

- O Cortez faz-me pensar que eu ainda consigo vir a ser profissional de futebol.

- O Amorim faz muita falta à equipa. Certo, inteligente, competente. 

- Péssima primeira parte. Razoável segunda parte. Nos únicos momentos em que o Benfica jogou o que sabe a coisa deu gosto de ver.

 

E, epá, Markovic. Não tenho palavras para falar sobre este puto.