A benfiquista
Crónica de hoje do Expresso online
Por norma, o benfiquismo é associado a homens, a um estádio inteiro de machos xingando a sorte e uma certa senhora. Mas o verdadeiro macho alfa do benfiquismo é a benfiquista. Tenho conhecido adeptas que metem o meu fanatismo a um canto. Esta colecção de cromas gloriosas é vasta, mas julgo que devemos começar o inventário por aquelas eloquentes varinas do terceiro anel, senhoras que fazem questão de ensinar novas combinações de palavrões à minha mulher, matronas que empalariam os Super Dragões ao estilo do Pulp Fiction, cinquentonas que acham que o Youtube foi inventado para gravar coisas do Pinto da Costa. Um mimo.
E, de certa maneira, eu conheci as filhas destas varinas em chuteiras. Na escola, certas miúdas eram as maiores fanáticas. Se a maioria andava com recortes do Kurt Cobain ou do Michael Jackson, as garotas da bola, normalmente com cabelos oleosos e peles lunares, roubavam A Bola ao avô e recortavam a figura do João Vieira Pinto para colar nos cadernos pretos da Ambar. Eram tão benfiquistas que até iam ver os jogos dos juvenis nas tardes de sábado, embora eu conceda que estas incursões talvez fossem provocadas pelas hormonas e não pelo benfiquismo. Vinte anos depois, as paixões adolescentes pelos homens do Benfica continuam activas. Há dias, por exemplo, descobri que uma prima tinha uma fixação doentia pelo Fábio Coentrão. Fábio, o Justin Bieber das Caxinas.
Mas a minha benfiquista favorita é aquela executiva, advogada ou jornalista, uma lady na mesa, uma louca no estádio. Educada, letrada e com a dentição completa, esta benfiquista terminal perde o uso da razão. Ela é que é a verdadeira índia do Terceiro Anel. Durante o jogo, aliás, durante o dia do jogo, ela fica possuída pelo espírito de Cosme Damião e trata o sportinguismo ou o portismo do marido com aquele desprezo pós-coito da Viúva Negra. Amém.