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Catedral da Luz

Catedral da Luz

O árbitro faz parte do jogo

05.03.12, Sérgio Lavos

 

Houve quem tenha achado que não faz sentido criticar a equipa do Benfica no jogo da passada sexta-feira e ao mesmo tempo achar que culpa da derrota foi do sr. Pedro Proença. Mas claro, quem defende esta posição é quem tende a excluir as arbitragens do mundo da bola. Mas eu já deixei de dar para esse peditório há muito.

 

Eu, antes de gostar de futebol, antes de saber porquê ou como é que se pode gostar de futebol, comecei a gostar do Benfica. Ser adepto do Benfica não é uma escolha racional nem uma lei universal - é um desígnio social. O adepto é condicionado a ser de determinado clube por ter crescido no ambiente que proporcionou essa condição. Somos do Benfica antes de pensarmos no que isso significa. A racionalização vem muito depois.

 

E essa racionalização inclui divagações como a "beleza do futebol" ou a "glória da conquista". Racionalmente, o Benfica tem isso tudo. Para quem nasceu em Portugal, o mais racional é ser benfiquista - décadas de domínio apenas coarctado pela ascensão da máfia portista, os melhores jogadores que actuaram em Portugal. Been there, done that. Continuamos a ter parte disso, e não tempos mais porque continua a haver ofertas que alguns árbitros e outros agentes desportivos não podem recusar. Seja como for, a paixão do adepto vai além desta racionalização.

 

Sou do Benfica não porque goste de ver jogar à bola - se não era capaz de ser, neste momento, adepto do Manchester City ou do Real Madrid (o Barcelona, como alguns sabem, faz nascer em mim um irreprimível bocejo) - mas porque faz parte da minha educação e do crescimento enquanto indivíduo. Por isso, não é possível para mim indissociar o papel da arbitragem no jogo. Eu até acho piada, como de resto qualquer comum mortal, à mão do deus Maradona contra a Inglaterra. Há golpes divinos maiores do que qualquer regra. Mas por favor não me obriguem a achar que as consistentes péssimas actuações dos árbitros se aproximam sequer desse momento único da história. Comparar tais fenómenos não só amesquinha a grandeza do acto de Maradona como eleva a mediocridade de Pedro Proença, Olegário e quejandos a alturas que eles nem em sonhos almejam alcançar.

 

Também há a outra questão, talvez a mais importante: o único clube condenado em Portugal por corrupção de árbitros foi o Futebol Clube do Porto. O padrinho Pinto da Costa também foi. Provou-se em tribunal que havia uma rede de dirigentes desportivos que conspiravam para beneficiar o FCP (e outras equipas) e que a cabeça do polvo era Pinto da Costa. Mas como a justiça em Portugal é uma fachada para proteger os mais ricos e poderosos, as condenações foram ridículas, inacreditáveis. Em Itália, a pátria do crime organizado, levaram a sério o caso "Calciocaos" que envolvia situações menos graves do que o caso "Apito Dourado" e os clubes investigados foram duramente condenados e os dirigentes desses clubes castigados de forma exemplar. Em Portugal, foi o que se viu. E Pinto da Costa continua por cá, impune e empáfio.

 

Numa modalidade em que resultados podem ser decididos por pormenores - ao contrário de outras, como o basquetebol, em que os pontos em disputa diluem a responsabilidade das equipas de arbitragem -, um erro grave pode decidir campeonatos. O erro grave, no jogo de sexta, não foi de Jorge Jesus. Nem foi apenas um erro. Foram vários, todos prejudicando o Benfica. O clube fez três jogos menos bons no campeonato e nos três foi prejudicado pelos árbitros, e nos três perdeu oito pontos. O FCP andou a época toda a jogar aos repelões, a praticar um futebol miserável, mas foi sendo ajudado em algumas partidas. E, na altura decisiva, lá estavam os amigos do costume para dar a estocada final. Há muito deixei de acreditar em coincidências. E, sinceramente, só estou a ver uma mudança neste estado de coisas quando Luís Filipe Vieira deixar de ser presidente - por qualquer insondável mistério, depois do roubo de sexta, no pasa nada para os lados da Luz. Porquê? É assim que ele defende os interesses do clube? Não. Há alturas em que não se pode ceder a interesses obscuros. Esta é uma delas. E Rui Costa, aquele que eu gostaria de ver na cadeira de presidente, não tem nada a dizer? Jorge Jesus pode até ser parte do problema, mas desconfio que a solução não está no seu afastamento. Até ao fim do campeonato, o Benfica tem de mudar. A ver vamos, como disse o fiscal-de-linha que validou o terceiro golo do Porto.

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